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quarta-feira, 29 de abril de 2015

O leão, a bruxa e a morte

Eu sou um pobre leão sedento por sangue e por vida
Que chora por entender tudo aquilo que eles ousaram esquecer
Sou eu pobre menino assustado que vê sua pipa no céu
A voar, a voar e voar, e não entendo porque cargas d'água eu tenho pés
Eu tenho pés, não tenho assas, não sei chegar onde eu quero,
Não sei ouvir as rezas das senhoras nem os conselhos de minha mãe,

Eu sou uma poderosa bruxa sedenta por conhecimento e magia
Que chora por entender tudo aquilo que eles ousaram esquecer
Sou uma pobre menina excomungada pelo padre e pelo pastor
Que vê suas verdades serem chamadas de mentiras e deturpadas
Por entre livros e programas de TV,
A verdade hoje em dia é daquele que a pode comprar,
E meu poder não compra uma transmissão, uma cadeira no senado,
Não tenho paciência para as blasfêmias e fogueiras que você
Como um santo homem sábio que finge de tudo saber armou pra mim,
Sou filha da lua que segue suas fases, que está cheia de vida na cheia
E que sangra na minguante, sou filha da terra, por isso para muitos
O céu é um lugar que já não posso entrar, mal sabem eles que fui eu
Eu que ergui seus mais divinos altares, nada existiria sem mim,
Eu sou tudo, e de tudo eu tenho, mas eu ando desacreditada,
Eu estou sem fé e sem santo, sem casa e sem templo
E para mim, tudo o que eles não tem é tempo,

Eu sou a morte que chega primeiro aos pássaros em pleno voo
Que te encontra numa certa esquina com a face de um ladrão
Ou sou aquela curva na estrada que você não soube evitar
Porque em verdade era lá que estava eu, de braços abertos
Pronta pra te ver voar,
Sou, sou a temida morte sedenta por sangue e por almas
Que chora por entender tudo aquilo que eles ousaram esquecer,
Eu sou a pobre morte indesejável e inevitável que em meu canto
Em algum e qualquer que seja o lugar, espera você.