— Você definitivamente não entenderia — disse eu suspirando e me virando para o lado oposto a Roberto, simulando uma irritação, bem, não tão simulada assim, posso dizer.
— Alice, não gosto que me enganem, nem que tentem me fazer de idiota, se tem alguma coisa acontecendo aqui, eu quero que você me fale agora — falou Roberto puxando meu braço com força suficiente pra me fazer virar para sua direção, em seguida subiu em cima de mim e ficou me encarando, me apertando, eu podia sentir a dúvida, a desconfiança e uma chama de ira em seus olhos, enquanto suas mãos apertavam meu pulso cada vez mais forte, a cada respiração pesada que ele dava.
— Você está me machucando, Roberto! Pode me soltar, por favor? Obrigada, Roberto, o que acontece é que… — respirei fundo e me levantei da cama, um milhão de coisas passaram em minha mente, eu poderia falar a verdade para ele? Ele me entenderia? Ou será que era demais para ele? Ou se ele nem ao menos se importava? Quer dizer, eu sei que ele se importa comigo, mas será seria o melhor? Dizer a verdade? No que eu estou pensando? A verdade não é uma opção para Alice, nunca foi uma opção, as emoções tinham me guiado até aquele momento, mas não ia ser mais assim!
— Eu estou confusa, Roberto! — falei com a voz embargada, deixando cair uma lagrima no canto do meu olho.
— Me conta logo, alguém fez algo com você? O que te deixou assim? Se eu sonhar que alguém tentou qualquer coisa com você…
— Não é nada disso, Roberto! Eu só não estou me sentindo bem! Eu estive o dia inteiro fora, sim, mas eu estava sozinha! Sozinha pensando, você sabe como o mar me faz bem, me acalma, eu não sei se é certo tudo isso, não depois de ver seu filho, eu fiquei pensando…
— Céus, Alice, o que aconteceu quando você viu meu filho?
Essa era uma pergunta que nem eu saberia responder, o que aconteceu quando vi Felipe? Sim, eu desejei, não posso negar que foi uma atração quase que imediata… Até ele abrir a boca, até eu ver Amanda ao lado dele, o que me deixou mais confusa ainda.
— Eu pensei na sua esposa, okay? Não é certo, tudo isso está errado!
— Ah, não, Alice, eu já te expliquei isso, minha esposa… Eu dou tudo que ela quer, não temos que envolver ela nisso, isso é nosso, eu estou cumprindo o que te prometi, não estou?
— Eu sei que está, mas, só é dificil para mim, essa dura realidade batendo na porta da frente, eu só preciso de um tempo, tudo bem?
— Tudo bem, Alice, minha menina, só não se preocupe com nada, já resolvi as coisas com meu filho, ele não vai dizer nada… De todo modo, eu vou fazer uma viagem de negócios, tudo bem para você ficar aqui uns dias? Eu levarei meu filho, estou planejando fazer dele o meu vice-presidente, você terá seu tempo com você.
— Tudo bem, Roberto, eu sei que você vai fazer tudo ficar bem, você é mestre nisso.
— Eu sei que sou — ele sorriu, beijou minha testa com um misto de respeito, carinho e receio e foi tomar seu banho.
Essa foi por pouco.
***
Talvez o fato que Roberto casualmente esqueceu de falar: eu não estaria sozinha na casa, o capeta estaria me esperando não muito longe dali, na verdade ele estava literalmente me esperando ao pé da cama, pronto para me tentar, me seduzir, me possuir.
O que eu poderia fazer além de lutar contra a tentação?
— Acorda bela adormecida. — ouvi uma voz conhecida que se aproximava de mim, eu podia muito mais sentir do que mesmo ouvir.
— Eu disse que voltaria, e nossa, como voltei com saudade.
Abri meus olhos e ela estava bem ali, a centímetros do meu corpo, seu hálito fresco estava quente e doce bem próximo a minha boca e seu corpo de algum modo se encaixava no meu sem qualquer esforço.
— Se quiser, pode dormir mais um pouco, mas não pense que vou deixar de desfrutar de você por causa disso.
Levantei de um salto, no susto, meu coração descompassado, meu Deus como eu a odeio, meu Deus, como diabos ela consegue ser tão linda?
— Sai daqui, aliás, o que você está fazendo aqui? Você não tem vergonha? Depois de tudo que você fez comigo? Por que não some? Por que não sai da minha vida? Eu tenho nojo de você, Amanada, quando você vai entender?
— Ah, Caroline, ah, perdão, Alice, quando que você vai entender que não precisa complicar tanto as coisas? Não vê que somos iguais?
— Eu NUNCA vou ser igual a você, nunca! Saia do meu quarto por favor, você já bagunçou demais minha vida, por favor, não me faça implorar... Só, só sai!
Amanda fez menção de se levantar, mas virou e segurou meus pulsos — que ainda estavam machucados, por sinal — e me encarou com um sorriso largo de lado, e começou a beijar meu pescoço até minha clavícula, eu estava imóvel, o desejo era inegável, e a inércia se fazia presente porque eu não podia fazer nada, eu não podia lutar contra o demônio, contra o meu demônio particular.
— Você nunca vai entender meus motivos — disse eu baixinho com a única voz que me restava, agora as lágrimas rolavam de meu rosto, era um choro consentido, quieto, quase que silencioso, você não entende tudo que eu passei pra chegar até aqui, não me olhe, nem me trate como se eu fosse uma puta...
— Puta? Você ah, Alice, por Deus! Até parece que não me conhece, aliás, se tem alguém no mundo que te conhece e que você deveria conhecer sou eu, garotas como você, como eu, garotas como nós... Garotas como nos não foram feitas para sonhar, nos fomos feitas para ir lá e conquistar tudo que o mundo nos negou, nos temos que usar o que temos de melhor para fazer até o pior se necessário for, se isso nos fizer chegar até onde nós queremos estar, não, não por direito, mas por merecimento, porque eu vou foder meu caminho todo se for preciso, e você que me julga tanto, não seja hipócrita, você não fez nada diferente de mim, a diferença é que eu não tenho que me deitar com um velho para conseguir o que é meu. então, não se julgue em nenhum minuto, em nenhum momento superior a mim, nos viemos da mesma merda, nos somos iguais, e vamos alcançar a mesma glória, e se você for boazinha e colaborar, vamos aproveitar cada pedacinho disso juntas, como deveria ter sido desde o inicio, não podemos nos livrar uma da existência da outra.
— Então, é isso que você pensa? Que os fins justificam os meios?
— Ora, Alice, se a gente não engolir o mundo, ele engole a gente, lembra que eu dizia isso?
— Eu não lembro muito bem.
— Ah minha cara, você tem sorte, vamos ter todo o dia para lembrar de muita coisa hoje.
Disse Amanda tirando sua blusa e jogando para o lado e me tomando com o braço me beijou como se não houvesse amanhã, me beijou como quem não me beija a um ano, me beijou como quem me beijou ontem pela ultima vez, mas com a mesma fome de sempre.
A noite seria longa e eu não tinha mais vontade de resistir. O demônio iria me possuir.
Mas eu o possuiria também, nada mais justo, não?