ela pode, tranquilamente se ver sorrindo ao pensar no que seu destino guarda para ela, pensar no que ela está lutando para ter, não é muita coisa, ela não chega a ser uma moça ambiciosa, ela quer paz, tranquilidade e tudo o que merece ter, tudo o que está construindo, ela apenas quer ver completo.
Ela pode facilmente se ver em um pequeno apartamento decorado com as coisas dela, as coisas que ela comprou ao longo da vida e sempre quis por em um lugar somente seu, seus mangás, seus livros, seus filmes, seus anjinhos, aquela prancheta de desenho que ela olha penosamente por não ter o tempo que gostaria para se debruçar sobre ela e desenhar até cansar, aquela poltrona confortável que ela sempre usa para ler, com um pequeno criado-mudo do lado para anotar tudo o que acha interessante em sua leitura, pois, para ela rabiscar um livro é uma profanação das mais graves, o que ela não achava aos 6 anos, quando coloriu toda a A Arca de Noé de Vinícius de Moraes, que ela olhava com cuidado, já velhinho e gasto, mas que sempre esteve com ela, seu Death Note que a muito ela já não usava, não tinha mais para que desabafar em seu caderno da morte, tudo estava exposto e muito claro para ela desde então, confissões estavam no passado, como muitas outras coisas, muitas delas das quais ela sentia MUITA falta.
Por vezes ela sentiu e sabia que ainda iria sentir vontade desesperada de ligar pra mãe e dizer que queria voltar pra casa, mas não iria, era só saudade, como também sentiria falta de ir a casa da melhor amiga e abrir a geladeira como se estivesse na casa dela, ou de ir a casa do melhor amigo e comer por três pessoas facilmente enquanto era extremamente mimada por ele e pelos outros amigos, ela não reconhecia, mas amava isso como ninguém, da mesma forma que ama seus amigos e sabe o quanto eles também a querem bem.
Mas, ela gosta da solidão, sabe o quanto precisava dela, ao menos por um tempo, acordar e dormir em extremo silêncio, fora o barulho do MP3 ou do MSN no notebook, ela não gostava de TV, mal ligava ela. Ela gostava de acordar toda esparramada na cama grande e macia, acordar de cueca e abraçar o travesseiro, de ir ao banheiro e tomar banho sem pressa, embora a pressa fosse sua pior inimiga, ela sempre estava atrasada, a cama sempre lhe era muito convidativa, ela não conseguia resistir, ela apreciava a solidão como poucas, mas não queria estar sozinha a todo momento, mas ainda não era tempo de estar sempre ao lado de alguém, tudo a seu tempo e cada coisa em seu lugar.
Era uma vida nova, ela precisaria de novos horizontes, novas inspirações, novos amigos, nada mais justo para um lugar novo, não? Porém, não iria esquecer os antigos - os verdadeiros - e sempre que tivesse uma chance arrastaria todos eles para lá, ou voltaria a cidade que a pouco tempo ela deixara pra trás, mas que ela ama como nenhum outro lugar no mundo. E olha que são tantos: Canadá, Egito, África, França, e também conhecer melhor o seu lindo e amado Brasil, mas esses são planos para o futuro, primeiro, infelizmente, temos que ter estabilidade na vida, para depois sonhar, não? Não. Se pode se estabilizar sonhando, nada melhor.
Ela queria também morar com alguém, acordar, dormir, cozinhar, quem sabe até casar, mas essas idéias ainda a assustavam um pouco, por mais que ela não admitisse isso, mas, mais uma vez é o tempo que sabe a hora e o lugar certo, para ela só restava a calma, e as delícias de aproveitar cada fase.
Visitar a família, ir a teatros e cinema, como ela sempre gostou, mas pouco pode, por viver em um lugar que não era tão grande, porém não tão pequeno, mas que não tinha tudo que ela gostava, ao menos quando ela ainda vivia lá, ela adoraria não prestar atenção na tv e namorar debaixo da coberta em um dia frio, reclamar de frio até seus pés congelarem em baixo das meias e do calor infernal que fazia ao meio dia e do quanto ela queria um ar-condicionado em seu quarto, no planeta, dirigir seu carro com o som alto, não seria um carro do ano, mas um que ela poderia pagar, comprar tortas de morando ao chegar em casa e comer aquela lasanha que sua mãe ensinou a fazer, mas também comer arroz, feijão e ovo frito, ela adorava, olhar para as fotos dos amigos e lembrar de tanta coisa boa e sentir vontade de chorar, mas sorrir seguidamente, por ver que tudo que viveu valeu a pena, tudo que viveu a trouxe para aquele lugar, para aquela parede enfestada de fotos e aquela xícara com iogurte de morango na mão e as lágrimas e o sorriso se misturando em seu lindo rosto.
Mas ela não tinha tempo para isso, tinha contas a pagar, amigos a fazer, tinha beijos para dar, festas para ir, aproveitar, sorrir, brincar, brigar, xingar, e mais uma vez beijar, abraçar, fazer amigos, jogar videogame, desenhar, beijar, pintar, escrever, cantar, cantar, cantar até alguém mandar calar a boca, e ela assentir… e cantarolar bem baixinho as músicas que só ela sabia e que sentia na alma.
Ela adorava a solidão, mas adorava a companhia das pessoas, apesar de sempre negar, era muito sociável, adorava fazer festas em casa, chamar os amigos, falar apaixonadamente sobre seus filmes e seriados favoritos, falar o quanto tal mangá a emocionou, para ela era assim, se apaixonar perdidamente por tudo que faz ou não fazer. Não era nada de mais, era apenas o aceitável para alguém que era movido a amor.
Era assim que ela vivia, era assim que ela queria viver, era assim que ela parava, sonhava e escrevia sem nem ao menos perceber.
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