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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Suaves Horas



A madrugada é cheia de calma. É por isso que aprecio tanto estar imersa nela.
Durante essas horas dúbias, que não são nem de noite, nem de dia, só se escuta o que se precisa ouvir.
O indispensável está ao alcance dos ouvidos, as vezes, mesmo que distante dos olhos.
A brisa fresca me remete a momentos bonitos, bons, como uma serena viagem do tempo que me leva onde tudo começou, a uma madrugada feita de salsa e dança, luzes e mescal; ou até mesmo a um primeiro beijo sob a escuridão total de um cenote.
A madrugada tem esse poder, de reviver os momentos mais estimados, que por vezes são os mais simples, como ouvir trova pela primeira vez em um ônibus lotado, de pé dividindo fones de ouvido com ele, enquanto ele te apresenta Fernando Delgadillo e você o mostra Lana Del Rey.
Não sei, mas a madrugada me faz sorrir ao lembrar do quanto ele estava empolgado me falando da França e da primeira vez que viu a neve, e eu, ah, eu estranhamente senti falta do Sertão que ainda não visitei por completo, não desbravei, não como quis. Porque é aí que eu percebo o meu querer se invertendo.
Eu, estranhamente na solidão de uma madrugada, as quatro da manhã vejo que minha jornada não é mais tão solitária, obviamente solidão nunca me incomodou, mas, de repente, eu percebi que em meu caminho cabe mais um, que quero compartilhar olhares, sabores, lugares, desejos, eu quero, eu deseja isso!
Vontade. Vontades inéditas, de ter um pequeno apartamento decorado com livros e fotos de todo o mundo, um mundo eu em alguns metros quadrados que quero dividir com alguém, eu consigo vê-lo andando com pouca roupa, resmungando pela hora que acordou (muito cedo) e a hora que foi dormir (muito tarde), por minha culpa, sempre, e ele está ali com os olhos semicerrados me puxando pra mais perto "só mais cinco muitos amor, o tempo pode esperar" e ele pode sim.
Tudo pode esperar para ver o sol pintar de dourado seu corpo desnudo, o mundo certamente não se importaria que a gente roubasse alguns bons minutos para se sentir, algumas horas para fazer amor e algumas vidas para fazer disso não uma rotina, mas sim uma comunhão, uma troca equivalente, uma constante felicidade chamada amor. Com vontade, com cuidado: amor.
Tudo isso cabe em uma madrugada bonita, solitária, e dela, em algum momento, meu corpo se dá por satisfeito e busca asilo no mundo dos sonhos, naqueles em que minha alma visita o lugar de onde está em todo momento: ao seu lado, as suaves horas de minha vida.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Teu coração bonito, oh coração vadio, serenou na rua, fez do mundo, o teu lar.