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sábado, 3 de fevereiro de 2018

Alice em duas partes: é tudo uma questão de manter a calma



— Você definitivamente não entenderia — disse eu suspirando e me virando para o lado oposto a Roberto, simulando uma irritação, bem, não tão simulada assim, posso dizer.

— Alice, não gosto que me enganem, nem que tentem me fazer de idiota, se tem alguma coisa acontecendo aqui, eu quero que você me fale agora — falou Roberto puxando meu braço com força suficiente pra me fazer virar para sua direção, em seguida subiu em cima de mim e ficou me encarando, me apertando, eu podia sentir a dúvida, a desconfiança e uma chama de ira em seus olhos, enquanto suas mãos apertavam meu pulso cada vez mais forte, a cada respiração pesada que ele dava.

— Você está me machucando, Roberto! Pode me soltar, por favor? Obrigada, Roberto, o que acontece é que… — respirei fundo e me levantei da cama, um milhão de coisas passaram em minha mente, eu poderia falar a verdade para ele? Ele me entenderia? Ou será que era demais para ele? Ou se ele nem ao menos se importava? Quer dizer, eu sei que ele se importa comigo, mas será seria o melhor? Dizer a verdade? No que eu estou pensando? A verdade não é uma opção para Alice, nunca foi uma opção, as emoções tinham me guiado até aquele momento, mas não ia ser mais assim!

— Eu estou confusa, Roberto! — falei com a voz embargada, deixando cair uma lagrima no canto do meu olho.

— Me conta logo, alguém fez algo com você? O que te deixou assim? Se eu sonhar que alguém tentou qualquer coisa com você…

— Não é nada disso, Roberto! Eu só não estou me sentindo bem! Eu estive o dia inteiro fora, sim, mas eu estava sozinha! Sozinha pensando, você sabe como o mar me faz bem, me acalma, eu não sei se é certo tudo isso, não depois de ver seu filho, eu fiquei pensando…

— Céus, Alice, o que aconteceu quando você viu meu filho?

Essa era uma pergunta que nem eu saberia responder, o que aconteceu quando vi Felipe? Sim, eu desejei, não posso negar que foi uma atração quase que imediata… Até ele abrir a boca, até eu ver Amanda ao lado dele, o que me deixou mais confusa ainda.

— Eu pensei na sua esposa, okay? Não é certo, tudo isso está errado!

— Ah, não, Alice, eu já te expliquei isso, minha esposa… Eu dou tudo que ela quer, não temos que envolver ela nisso, isso é nosso, eu estou cumprindo o que te prometi, não estou?

— Eu sei que está, mas, só é dificil para mim, essa dura realidade batendo na porta da frente, eu só preciso de um tempo, tudo bem?

— Tudo bem, Alice, minha menina, só não se preocupe com nada, já resolvi as coisas com meu filho, ele não vai dizer nada… De todo modo, eu vou fazer uma viagem de negócios, tudo bem para você ficar aqui uns dias? Eu levarei meu filho, estou planejando fazer dele o meu vice-presidente, você terá seu tempo com você.

— Tudo bem, Roberto, eu sei que você vai fazer tudo ficar bem, você é mestre nisso.

— Eu sei que sou — ele sorriu, beijou minha testa com um misto de respeito, carinho e receio e foi tomar seu banho.

Essa foi por pouco.

***

Deitei na cama aliviada e dormi a sono solto, então era eu, aquela casa maravilhosa, a brisa de verão e o mar, o que poderia dar errado?

Talvez o fato que Roberto casualmente esqueceu de falar: eu não estaria sozinha na casa, o capeta estaria me esperando não muito longe dali, na verdade ele estava literalmente me esperando ao pé da cama, pronto para me tentar, me seduzir, me possuir.

O que eu poderia fazer além de lutar contra a tentação?

— Acorda bela adormecida. — ouvi uma voz conhecida que se aproximava de mim, eu podia muito mais sentir do que mesmo ouvir.

— Eu disse que voltaria, e nossa, como voltei com saudade.

Abri meus olhos e ela estava bem ali, a centímetros do meu corpo, seu hálito fresco estava quente e doce bem próximo a minha boca e seu corpo de algum modo se encaixava no meu sem qualquer esforço.



— Se quiser, pode dormir mais um pouco, mas não pense que vou deixar de desfrutar de você por causa disso.

Levantei de um salto, no susto, meu coração descompassado, meu Deus como eu a odeio, meu Deus, como diabos ela consegue ser tão linda?

— Sai daqui, aliás, o que você está fazendo aqui? Você não tem vergonha? Depois de tudo que você fez comigo? Por que não some? Por que não sai da minha vida? Eu tenho nojo de você, Amanada, quando você vai entender?

— Ah, Caroline, ah, perdão, Alice, quando que você vai entender que não precisa complicar tanto as coisas? Não vê que somos iguais?

— Eu NUNCA vou ser igual a você, nunca! Saia do meu quarto por favor, você já bagunçou demais minha vida, por favor, não me faça implorar... Só, só sai!

Amanda fez menção de se levantar, mas virou e segurou meus pulsos — que ainda estavam machucados, por sinal — e me encarou com um sorriso largo de lado, e começou a beijar meu pescoço até minha clavícula, eu estava imóvel, o desejo era inegável, e a inércia se fazia presente porque eu não podia fazer nada, eu não podia lutar contra o demônio, contra o meu demônio particular.

— Você nunca vai entender meus motivos — disse eu baixinho com a única voz que me restava, agora as lágrimas rolavam de meu rosto, era um choro consentido, quieto, quase que silencioso, você não entende tudo que eu passei pra chegar até aqui, não me olhe, nem me trate como se eu fosse uma puta...

— Puta? Você ah, Alice, por Deus! Até parece que não me conhece, aliás, se tem alguém no mundo que te conhece e que você deveria conhecer sou eu, garotas como você, como eu, garotas como nós... Garotas como nos não foram feitas para sonhar, nos fomos feitas para ir lá e conquistar tudo que o mundo nos negou, nos temos que usar o que temos de melhor para fazer até o pior se necessário for, se isso nos fizer chegar até onde nós queremos estar, não, não por direito, mas por merecimento, porque eu vou foder meu caminho todo se for preciso, e você que me julga tanto, não seja hipócrita, você não fez nada diferente de mim, a diferença é que eu não tenho que me deitar com um velho para conseguir o que é meu. então, não se julgue em nenhum minuto, em nenhum momento superior a mim, nos viemos da mesma merda, nos somos iguais, e vamos alcançar a mesma glória, e se você for boazinha e colaborar, vamos aproveitar cada pedacinho disso juntas, como deveria ter  sido desde o inicio, não podemos nos livrar uma da existência da outra.

— Então, é isso que você pensa? Que os fins justificam os meios?

— Ora, Alice, se a gente não engolir o mundo, ele engole a gente, lembra que eu dizia isso?

— Eu não lembro muito bem.

— Ah minha cara, você tem sorte, vamos ter todo o dia para lembrar de muita coisa hoje.

Disse Amanda tirando sua blusa e jogando para o lado e me tomando com o braço me beijou como se não houvesse amanhã, me beijou como quem não me beija a um ano, me beijou como quem me beijou ontem pela ultima vez, mas com a mesma fome de sempre.

A noite seria longa e eu não tinha mais vontade de resistir. O demônio iria me possuir.

Mas eu o possuiria também, nada mais justo, não?




sábado, 16 de agosto de 2014

Alice em duas partes: eu não estou com sorte


— Meu amor, eu morreria de tédio se você não tivesse aparecido! — disse ela indo naturalmente para os braços dele e dando um selinho demorado enquanto apertava levemente a camiseta polo de Felipe na altura dos ombros — Eu estava dizendo a Alice que estava vendo uns roteiros sobre essas praias, e queria mostrar a ela um bom lugar para surfar, é incrível ter um lugar tão lindo a nossa disposição, não é Alice?
Eu engoli a seco, o que poderia dizer?
— E eu disse a Amanda que eu não gosto de surf nem nada do tipo, só gosto de tomar sol aqui... Sozinha. — disse eu olhando o mar se perder no horizonte azul.
— Ora, ora, sempre mostrando que educação não é uma de suas principais qualidades, bem, deixa ela pra lá, Amanda — disse Felipe passando o braço por cima do ombro de Amanda e beijando seu cabelo, Deus como isso me irritava! E ela sorria ironicamente de um jeito que só eu poderia ver. — Podemos pegar nossas pranchas agora se você quiser.
— Pode pegar para mim amor? Eu não quero perder um minuto desse sol nascente!
Felipe suspirou duas vezes e depois foi sem questionar nada, eu apenas bufei e esperei ele entrar em casa para fazer o mesmo caminho deixando Amanda pra trás. O que não vi foi que em poucos passos ela me seguiu, já estava bem atrás de mim e sussurrou em meu ouvido "eu ainda não acabei com você!", dizendo isso e beijando meu ouvido. Me afastei o mais rápido que pude e entrei no quarto.
O dia começava a entrar pela cortina deixando a madeira escura com tons alaranjados, Roberto dormia a sono solto e eu entrei tão silenciosa quanto quando saí, fui em direção ao banheiro e tranquei a porta com todo o cuidado, então cai no chão tremendo, não sei se de frio, ou de estresse, ou raiva, ou os três, só tremia, então abracei minhas pernas e afundei a cabeça no meu colo, sem perceber eu já estava chorando.
Droga, como eu fui me meter nisso tudo? E porque ela, justo ela tinha que aparecer aqui? E porque meu coração se sentia tão violado quando eu a via beijando Felipe? Se eu ao menos tivesse para quem voltar...
Mas, não há regressos no meu caminho, eu não sou o tipo de pessoa que quando tudo dá errado tem um lar seguro para voltar, ao menos não sou a muito tempo, Alice não tem para quem ou porque voltar, porque Alice está dividida em duas partes, e nenhuma destas partes correspondem a algum lugar ou a alguém.
Então depois de muito choro e frio, eu fiz o que eu tinha de fazer, limpei meu rosto, me encarei com o meu melhor sorriso e fui sorrateiramente para a cama em que um homem mais velho e que se achava o dono do mundo e a pessoa mais esperta do mundo estava dormindo, mal sabia ele tudo que estava acontecendo em baixo de seu nariz, e é melhor assim, se ele soubesse, estaríamos todos mortos.
Quando finalmente consigo fechar meus olhos e tento me concentrar para dormir, escuto a voz de Roberto, mais rouca do que o costume por conta da hora.
— Eu sei que você não está dormindo, e eu sei que você não estava nessa cama por toda a noite, você acha que eu sou idiota?
Eu poderia muito bem responder o que eu realmente pensava e acabar logo com tudo isso, mas algo me impediu, eu ainda era a Alice que gostava do luxo e das facilidades de estar ao lado dele, sim, uma covarde.
Uma covarde fudida que não fazia ideia do que responder.
— Eu não vou perguntar duas vezes, Alice.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Alice em Duas Partes: Eu não sinto sua falta!



— Acabou, Caroline. - disse ela com a voz mais fria que eu ouvi em toda minha vida.
— Não! Escuta, você está de cabeça quente, nós vamos dar um jeito, certo? Nós sempre damos!
— Caroline, acabou, eu não vou voltar atrás, entende isso, vai ser melhor assim.
— Eu vou até você, eu vou largar tudo aqui, eu não me importo com o que vai acontecer, só não vai embora antes de me ver, ok? Por favor, diz que vai fazer isso por mim! Você sabe que eu te amo... Não vou conseguir sem você!
— Não perde seu tempo, não vai ter ninguém aqui te esperando, aliás, preciso ir. Agora.
— Não faz isso, Amanda, eu te amo! - ouvi a ligação cair, tão seca, tão impessoal, sem sentimentos. A morte deve ser fria dessa forma.
Eu passei aquela noite chorando, eu chorei por toda a madrugada, e ao amanhecer, ainda me restavam lágrimas, lágrimas quentes e olhos inchados. Me restavam roupas para enfiar dentro de uma pequena mochila, quebrar o cofre, juntar o pouco dinheiro que eu tinha, respirar o ar da manhã. Ver o sol nascer.
Eu vi e tentei memorizar cada pedacinho do quarto que fora meu por toda a minha pouca vida, esses longos e confusos dezessete anos. Eu tentei lembrar do rosa gasto das paredes, dos três ou quatro ursos empoeirados nas prateleiras, dos livros que nunca tive tempo de ler; daquela meia perdida de baixo da cama, do all star sujo que eu não consegui espaço para levar, das roupas da estação passada que já em nada me representavam; os CDs que eu teria que deixar aqui. 
Deixei também minhas lembranças, das duas primeiras vezes que tive nessa mesma cama (vantagens de ser bissexual), as fotos, até dos pássaros que me despertavam toda manhã e eu odiava eu sentiria falta. Sentei na cama que eu não gostava e vi o sol nascer,empurrei com cuidado a porta do quarto de meus pais e os vi pela ultima vez. Eu sabia que seria a ultima vez. Deixei uma carta me despedindo em cima da mesa, mesmo sabendo que eles só notariam minha ausência, ou a carta quando eu já estivesse muito longe daqui.
"Eu estou indo embora por ela... E como vocês disseram que aconteceria, não sou mais sua filha. Adeus e sejam felizes, porque eu vou ser."
Foram minhas poucas palavras, abri as portas com cuidado, as tranquei e fui de uma vez, não olhei para trás. Tinha sido o momento mais corajoso da minha vida, e eu senti tanto orgulho de mim quando subi naquele ônibus e passei horas e horas dormindo e acordando assustada achando que não iria descer no lugar certo! Eu nunca tinha ido aquela cidade. Eu era muito corajosa em ir para lá. Passei boa parte da viagem tentando ligar para ela, e ela não atendia, era típico dela, ela estava chateada. Então mandei algo que ela não poderia ignorar "estou chegando na sua cidade, me encontre no farol às sete da noite. Vamos fugir, seremos livres!", eu sabia que ela não ignoraria isso!
Cheguei as seis e meia com o coração saindo pela boca e um pouco de frio. Às sete eu olhava para todos os lados e só via casais apaixonados e amigos com vinhos e violões. Às oito eu tentava te ligar e olhava desesperada para o ponto de ônibus, as pessoas chegavam e saiam, nenhuma era você. Ás nove eu me agarrava a minha camisa e segurava lágrimas que não saiam de jeito nenhum e procurava raciocinar o que iria fazer. Às dez eu estava sentada num canto de um banco com um casal que ignorava minha presença ao lado. Às onze meu queixo e todo meu corpo tremiam de frio e eu não sentia mais nada. Era meia noite e não havia mais ninguém, só algumas figuras estranhas, bêbados, drogados e olhos promíscuos, de alguma forma eu afastava a todos. Que corajosa sou eu, não? Ah, que burra! Porque ela estaria ali? Curioso, meu sonho era conhecer o mar, nunca tinha o visto antes, e hoje eu o odiava, ela estava em algum lugar do oceano indo para algum lugar que eu não conhecia, ela não morava mais aqui, e nem eu em mim. Às uma eu já não era mais eu. Às duas eu nem sabia quem eu era, e às duas e meia eu seria qualquer uma menos Caroline. Ela nem ao menos disse que me amava, ou que sentia minha falta. Era ridículo pensar nisso numa hora dessas. Às três Roberto chegou, e o resto Caroline não sabe, porque Alice havia tomado o controle de tudo. 

***

— Eu sinto sua falta! — ela sussurrou ao meu ouvido antes de me beijar. 
Então eu a empurrei para longe.
— Você é a pessoa mais nojenta que eu conheci em toda minha vida, você sentiu minha falta quando estava naquele navio fudendo com um riquinho qualquer?
— Você não tinha a língua afiada assim antes, e não foi um riquinho qualquer, foi o riquinho com que você gostaria de estar fudendo agora.
— Eu odeio você. Eu. Odieo.Você.
— Ah, não! Você me ama! Me disse isso tantas vezes, como poderia simplesmente mudar agora? Já sei o que você está pensando, você queria fuder com nós dois né? Mas, sinto, Felipe, infelizmente não faz esse tipo de cara. Ele na verdade é bem careta na cama, você não iria gostar. Mas, nós duas ainda podemos nos divertir, relembrar os velhos tempos, aprendi umas coisinhas novas que você vai adorar.
Ela se aproximava de mim enquanto falava  eu ficava com mais raiva e não sabia o que fazer, eu estava petrificada, o que diabos etá acontecendo comigo?
— Você só está irritada, mas você sabe que eu sei te fazer ficar calminha.
— Sai daqui.
— Vem, vou te mostrar uma coisa, pelos velhos tempos.
Disse ela se aproximando ainda mais. Meu corpo tremia, eu queria bater nela, muito e forte, mas ao mesmo tempo meu corpo pulsava por ela, era uma contradição tão grande que eu só consegui ficar ali parada.
— Vem comigo, vem? - disse ela molhando os lábios com a lingua e respirando fundo, bem perto de mim.
— Para onde, Amanda? Aliais, o que estão fazendo aqui? 
Era Felipe, outro anjo que me foi enviado, a diferença é que ele estava bem intrigado e não parecia gostar em nada de ver Amanda do meu lado.
— Qual das duas vai me responder?

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O fim e o começo


O vento soprava doce, trazendo o aroma de rosas, algumas delas dançavam no céu, aquele dia cinza que tinha tudo para ser azul, mas teimava em “chiaescurecer”.
“Poderia ser eu ali” – eu pensei sorrindo, com um desconforto suave no peito – mas... Não sou eu.
Então eu entrei, em passos largos na igreja, todos olharam, mas, ao me ver, logo desviaram o olhar para algo mais interessante. Uma conversa que ficou pela metade, aquele vestido que deveria ser de outra cor, que está apertado, os cochichos e gente dizendo que iria direto pra festa, os fotógrafos testando a iluminação, daminhas correndo, as mães correndo atrás, “o penteado, o penteado!”, os amigos de sempre a rirem, radiantes nesse dia, a mãe dele tão bonita, lutando para não chorar, a mãe dela prestando atenção em todos os detalhes. Foram poucos largos e arrastados passos que precisei dar, sentei por ali mesmo, ultima fila, discreta. “Mas... que dor mais doce!”, foi meu pensamento.
Quanta coisa passa na nossa mente em tão pouco tempo, quantos risos, beijos, discussões, brigas, cenas de novela, videoclipes de amor, filmes e mais filmes, perfumes ao vento, chegadas noturnas depois do horário, era tudo tão explosivo e cheio de paixão. Declarações, mordidas, lágrimas, beijos, beijos, beijos, provocações, orgasmos múltiplos, horas e horas fazendo amor, pseudônimos, viagens escondidas, todos os hotéis da cidade, primeiras vezes, macarrão com vinho branco, hipnose, mãos dadas, carinhos, cartas e telegramas, telefonemas e SMS, você e eu.
Incrível como nesses momentos – inoportunos – conseguimos lembrar de tanta coisa que fazemos tudo e mais um pouco para esquecer – mas, a verdade é que devo deixar essas lembranças para trás. Hoje todos vão saber que o meu garotinho se casou. Não é comigo, mas que seja linda, linda como um dia foi a nossa.
A música começa a tocar, agora é oficial! Todos se levantam, algumas garotas já preparam as lágrimas, outros distribuem saquinhos de arroz, ela vem em passos curtos, largos, ela sorri, ela sorri andando, tão radiante! Linda, serena... Sempre imaginei que esse seria o tipo de garota perfeita para ele.
Ele.
Estava ali, em cima do altar, olhei para tudo, para todas as direções, menos aquela, levantei a face aos poucos, ele estava mais bonito do que nunca, tão elegante naquele terno, tão mais maduro, cabelo arrumado, mãos tremulas... E ele brilhava tanto quanto ela, “e por você perdidamente apaixonado”. Eu fui a primeira a chorar, não soube exatamente se de tristeza ou felicidade, não sei explicar o que foi aquele momento... Senti um soco profundo no estomago, um vazio estranho. Mas logo me recompus, era exatamente isso que ele precisava, que ele sempre quis, no nosso tempo eu era muito jovem para escolher, mas  o “nosso tempo” passou, e ele me escolheu para ser testemunha dessa história, então, eu engoli o choro, porque eu sabia que ele merecia uma vida toda de paz e amor.
Então, eu me senti surpreendentemente feliz, feliz por ele, feliz por ele estar feliz. Ali foi que eu entendi o que realmente era amar. E ela disse sim, ele disse sim. E eu o amei, ainda mais, e mais do que sempre, e esse foi o fim.

E o começo.

sábado, 27 de julho de 2013

Alice em duas partes: querida Amanda



“ My mother accused me of losing my mind, but I swore I was fine”.

Um redemoinho de sentimentos, a dor no pé, toda aquela sensação de estar em um filme, de estar em um filme que voltava mais rápido do que eu poderia me situar, eu voltava para o clímax de um filme antigo que eu quis tanto enterrar, das lembranças que eu, quando jurara não mais lembrar de quem eu era antes de ser Alice, jurara esquecer, matar, assim, como quem eu era. Mas, como fazer tudo isso? É ela porra, o que podemos fazer quando nosso passado simplesmente bate em nossa porta?
A mente humana... Penso pouco nessas questões existenciais, não tenho tempo para isso, apenas ouço falar quando por tédio folheio alguma revista feminina barata no salão de beleza, sempre há algo assim para se ler, esses artigos pseudo-filosóficos, aqueles artigos que vem logo depois do “como emagrecer 10 quilos com a dieta da lua” e antes do “20 posições para enlouquecer seu homem”; tão pouco pagaria algum psicólogo para falar de meus problemas, bem, não costumo falar deles nem de graça! Mas, provavelmente existe alguma teoria dizendo que algumas ações, por menores que sejam acabam desencadeando reações maiores, existindo ou não, eu acabo de comprovar o quanto mexeu comigo aquele “quem é você?”
Tá aí uma pergunta que não sei responder, quem sou eu? Aquela menina chorona que Roberto encontrou no Farol, ou essa mulher forte que venho lutando para ser? Ou essa garota fragilizada com o pé sangrando e que ainda pisa em cacos... Por muito tempo, eu achava que se tinha alguém no mundo que sabia que eu era, essa pessoa seria ela.
— Ninguém que você conheça, achei que era alguém que eu conhecia, mas, foi apenas impressão minha. — eu falei isso mancando para a cadeira mais próxima, precisava ao menos tirar os cacos de vidro de meu pé para poder pensar melhor, mas de fato, aquela mulher... Eu não fazia ideia de quem era, mesmo em tese sendo ela. Mas, para todos os efeitos, Alice nunca conheceu Amanda, ou seja lá quem ela seja agora.
— Olha o seu pé... Vou pegar a caixa de primeiros socorros, onde meu pai se meteu nessas horas? — disse Felipe com cara de preocupado, mesmo resmungando enquanto se distanciava, deixando eu e ela sozinhas na varanda.
— O que diabos você está fazendo aqui, Ca... — Amanda começou a falar.
— Alice, meu nome é Alice — disse eu cortando a fala de Amanda enquanto arrancava os caquinhos de vidro restantes. — Eu é que pergunto, o que VOCÊ está fazendo aqui Amanda?
— Escuta, Felipe voltará em breve, mais tarde eu te encontro na praia, lá pelas duas, e te explico tudo, okay? — disse Amanda de maneira intimista.
— O que você tem a esconder, Amanda? Por que eu te ajudaria? — disse eu vendo o sangue começar a estancar em meu pé.
— Eu prometo que te recompensarei mais tarde — disse ela segurando meu queixo e me fazendo olhar em seus límpidos olhos azuis — E também vou querer saber exatamente o que você faz nessa casa.
Não tive tempo para questionar, ou se quer responder malcriadamente, logo ouvi a voz estrondosa de Roberto irrompendo pela porta, ao lado Felipe com cara de desconfiado segurando uma maletinha de pequenos socorros.
— Certo — foi a única coisa que pude dizer, assim que cruzou a porta, Roberto me colocou no colo como se eu fosse sua criança indefesa, pegou a maletinha com a outra mão e me levou para o quarto enquanto falava o quanto eu era frágil e que e não deveria me preocupar, pois, ele cuidaria de mim.
— Felipe, acomode sua namorada! Mais tarde nos veremos, aliais, muito prazer em te conhecer Amanda!
— Igualmente, senhor Roberto! — disse Amanda com um belo sorriso.
— Oh, não me chame de senhor! Eu poderia ser seu namorado! Veja a minha Alice aqui! — disse ele rindo e subindo as escadas. Acho que Amanda entendeu o que eu fazia ali.
Não tive coragem de tentar encará-la novamente naquele momento, Felipe apenas continuava em silêncio, mas eu conseguia sentir todo seu repúdio, não era difícil de respirar e sentir o desdém dele.

***

Eram quase duas da manhã quando levantei da cama com o máximo de cuidado que poderia ter, meu pé já não doía mais, estava perfeitamente enfaixado, Roberto foi um enfermeiro dedicado, e por ter chegado cansado de uma reunião não demorou a dormir. Coloquei um blusão confortável e fui andando pela casa escura, tudo estava tão calmo, mal parecia que uma tempestade me esperaria do outro lado da porta.
Andei com certa dificuldade pelo chão de madeira frio, ouvia apenas o silvo do vento quando pisei no ultimo degrau da escada, as cortinas balançavam com calma e pelas vidraças da porta entrava uma luz prateada da lua que eu conseguia ver ao longe, pequena entre poucas nuvens, mesmo assim o chão estava iluminado, a areia branca da praia funcionava como holofotes um tanto incômodos em meus olhos. Mesmo assim eu fui, segurei a maçaneta. Respirei uma, duas, três vezes, não tive forças para abrir a porta, afinal, longas foram as noites que meus dias giravam ao seu redor, Taylor Swift não saia de minha cabeça, era como um triste fundo musical, Amanda era meu “Dear John”, cara a cara, ali, atrás daquela porta, quando eu achei que nunca mais a veria... Abri a porta e fui encarar: a ela e a mim, mas é claro que bem no fundo eu apenas rezava para que o chão não desmoronasse sob meus pés. De novo.
Eu tentava não pensar, antes de a ver todo aquele flash back fixado em minha mente, indo e voltando, indo e voltando.
“Quem é você?” — ela perguntou, mas eu não sei, eu realmente não sei. Só sei que era amor. Chega de máscaras e muros, era amor! Afinal, Quem eu quero enganar? Era amor, ao menos da minha parte, afinal, nunca temos como ter certeza se isso é reciproco.
E ao abrir a porta, eu simplesmente tive a certeza que era amor, mas não, nunca foi reciproco.
— Nossa, você foi pontual! — disse ela — ainda bem, tenho muitas coisas para conversar com você. — disse ela me olhando dos pés a cabeça.
— O que você quer? — disse eu me segurando enquanto tremia, de medo e de mim.
— Primeiro, — disse ela chegando rápida e astutamente bem próximo a mim — primeiro, deixe-me sentir seu cheiro Eu senti tanto sua falta.
Sabe o que eu disse sobre pequenas ações que acarretam em grandes reações?
— Seu cheiro... Como eu poderia esquecer? — disse ela acariciando meus cabelos e me puxando pela cintura — Como eu poderia não desejar?
Pequenas ações, grandes reações.
— Eu sinto sua falta! — ela sussurrou ao meu ouvido antes de me beijar.
E foi exatamente nesse instante que aquela porra toda voltou a minha mente, como num filme em preto e branco, simplesmente tudo começou novamente dentro de mim, no tempo exato de um beijo, que eu mal tinha ideia do quanto duraria.




quarta-feira, 29 de maio de 2013

Alice em Duas partes: Manhã naquele quarto, noite na varanda


Era como um sonho ver ele ali, tão perto num sono tão profundo que mal poderia sentir minha presença, meio que por instinto fui até ele e me aproximei, tão próximo de sua boca, sentindo sua respiração, seu hálito doce mesmo àquela hora da manhã, mas ele acordou.
—  O que você está fazendo aqui, vadia? — foi o que ele disse, então, todo o encantamento acabou, me olhava com repúdio, então, não demorei muito para recordar o porque eu tinha vindo aqui.
— Eu estava apenas tentando te acordar, seu grosso, porque eu quero conversar com você, deixar algumas coisas bem claras e quis falar em particular.
— Então, já que invadiu meu quarto e me acordou, fale logo o que você quer. — disse ele sentando na cama e cruzando os braços, ainda com o ar defensivo, a fraca luz que vinha pela janela batia em seus ombros com sutileza, contornando seus braços e sumindo perto de seu pescoço, deixando seu rosto encoberto em sombras.
— Bem, eu sei que não tivemos o melhor começo, e eu até entendo o fato de você não gostar de mim, mas você sabe que eu estou aqui e não tenho a menor pretensão de sair, então, vamos ter que nos aguentar, e é melhor que seja da forma mais amigável possível.
— Eu não tenho que compactuar com esse tipo de coisa, minha mãe ama meu pai, você já parou para pensar nisso alguma vez?
— Mas, seu pai não ama sua mãe, — as palavras simplesmente saíam de minha boca — vamos ser honestos, você sabe que eu não sou a primeira amante dele, e se eu sair da vida dele... Não serei a ultima, cara, eu não incomodo ninguém, nem faço inferno, eu estou bem do jeito que estou vivendo, nunca quis prejudicar sua mãe, mas não vou me prejudicar também, além do mais, ela deve conhecer melhor do que eu o marido que tem em casa.
— Não, ela não conhece. — disse ele em meio a um sorriso irônico — nem eu conhecia, mas conheço muito bem garotas como você, e quer saber? Vocês acabam sozinhas porque ninguém respeita vadias.
— E você é o cara mais estupido que já vi na vida, e olha que eu já vi muitos. — disse eu com muita raiva, eu tinha chegado ali em missão de paz!
— Não duvido que tenham sido muitos mesmo, agora você pode sair de meu quarto? — disse ele levantando-se e abrindo a porta do quarto.
— Olha garoto, eu não terminei de falar. — disse eu levantando e bufando de ódio.
— Não tenho que ouvir seus latidos, vá enquanto eu não perco minha paciência.
— Ah, e o que você vai fazer? Me bater? — Cheguei mais perto dele, bem perto na verdade.
— Eu não... — disse ele se aproximando ainda mais de mim, abriu um lindo sorriso irônico — os quais ele parecia ser mestre, e falou: não bato em animais.
Mas eu sim. Enchi minha mão com toda a força que tinha adicionado com toda a raiva que estava sentindo e lhe dei um tapão estrondoso na cara.
Por impulso, ele ergueu a mão no ar para me devolver o tapa, mas algo o segurou.
— Olha garota — disse ele abaixando a mão e respirando uma, duas, três, quatro vezes — se você quer arrumar barraco escolheu o cara errado, só sai do meu caminho, eu odeio garotas como você, e sei bem como lidar com seu tipo, estive a vida toda rodeado delas, não vou cair na sua.
— O que porra você quer dizer com isso? — disse eu confusa e com o coração acelerado e me sentindo humilhada, a quanto tempo eu não me sentia assim, meu Deus?
— Aproveitadoras, garotas querendo tirar proveito de tudo que pode, meu pai não é o bastante pra você tem que vir pro meu quarto? O que você estava procurando, você não vai achar.
— Eu vim aqui pra estabelecer paz, não quero nada com um ridículo como você, que aliais é tão estupido que deve ser sozinho na vida.
— Eu tenho alguém, uma garota que me enxerga do jeito que eu sou e não o que eu tenho, uma mulher de verdade, coisa que você nunca vai ser na vida, agora sai daqui, apenas saia.
O que mais poderia fazer? Saí. Sai e passei o dia de mal humor, despistei Roberto dizendo que estava com enxaqueca e ele acreditou, não falei mais com Felipe desde a manhã, e já era quase noite, eu tinha passado o dia inteiro na praia olhando o mar e sentindo um aperto estranho no peito, logo concluí que era raiva, e não conseguia parar de pensar em Felipe e aquilo estava me dando nos nervos, queria voltar para meu quarto, mas me amedrontava a ideia de cruzar com ele naquela casa. Mas já estava ficando frio e eu estava ficando com sede, tomei coragem de voltar para a casa e encarar aquele puto.
Mal sabia eu o que estava esperando lá, antes tivesse entrado no mar e respirado água até me afogar.
Ao chegar dentro de casa, entrei de fininho sem fazer muito barulho, dava passos leves no piso de madeira, peguei um copo de água bem gelado e resolvi subir para meu quarto, deveria estar passando algo de interessante na TV, Roberto ainda não tinha voltado de sua reunião e não havia nem sinal de Felipe. Subi as escadas tomando um longo gole de água, já estava quase na porta de meu quarto, mas ouvi sons de risadas conhecidas, uma era de Felipe, isso eu consegui identificar, mas a outra... Eu sabia que era de alguém conhecido, mas não sabia exatamente quem, era uma voz feminina que me fez pulsar automaticamente, mas quem?
Andei com a ponta de meus pés e fui até a varanda da casa, a porta estava entre aberta, era para ser só uma espiadinha...

Parecia uma daquelas cenas de filme da Disney, sabe? Felipe e uma garota de cabelos longos, escuros e ondulados pareciam os protagonistas, não conseguia ver seu rosto que estava bem apoiado no peito dele. Os dois estavam rindo e sorrindo rodando na varanda com aquela luz de fim de tarde misturada com a da lâmpada amarela sobre eles. Ele sussurrava alguma coisa em seu ouvido e ela só ria e seu riso me incomodava cada vez mais.Sem qualquer aviso eles pararam e ela, ainda com seu cabelo sobre o rosto segurou o dele com as duas mãos. Como eu senti inveja dela! Então, ele afastou o cabelo dela e sorrio como se estivesse olhando para a coisa mais preciosa do mundo, eles iriam se beijar e eu não conseguia parar de olhar para ele, mas consegui desviar meus olhos para ver quem diabos era aquela garota... E eu simplesmente não consegui acreditar, repentinamente perdi as forças, estava quase desmaiando quando o copo de água gelado teve que cair em meu pé para eu voltar para a terra, eu não podia acreditar.
 Era ela.
— O que diabos você está fazendo aqui? — disse eu tremendo dos pés, que por sinal estavam sangrando, à cabeça. — Pode me explicar?
Era ela.
— Vocês... Se conhecem? — disse Felipe totalmente confuso olhando para seu rosto e para o meu.
Era ela.
— Quem é você? — foi a única coisa que saiu de sua boca naquele momento, mas não havia qualquer dúvida. Era ela.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Alice em 2 partes: Zero: A Viagem Fodida


Início de Outubro do ano anterior.

Esperei anos da minha vida para estar nesse lugar, mas na verdade, agora, desejaria nunca ter vindo, era meu sonho... Tornou-se meu maior pesadelo. Eu estava no farol, era noite e as ondas batiam com violência nas pedras, eu achava estranho as ondas baterem em pedras antes de bater na areia, o frio salgado que fazia naquele lugar solitário, eu estranhava até as voltas que a luz do farol dava no mar, como ela se perdia no oceano, era tudo tão deserto, mal podia acreditar que poderia existir vida além mar, e que boa parte da minha tinha ido com ele. Eu não sabia o que fazer, eu nunca imaginara estar ali naquela situação,  a solidão dói em noites frias de primavera, numa cidade que mais parecia verão, era uma mistura de frio e calor, do calor que saia de minha alma e do frio que assentava em meu corpo, eu me apertava cada vez mais, e chorava copiosamente na ausência de qualquer testemunha, ao menos era isso que eu pensava até então.

— Com licença, pode achar que é um completo atrevimento de minha parte, mas te vi sozinha de longe e achei um pecado isso, nesse cenário, se não te incomodar, eu poderia te fazer companhia? — disse uma voz, mas não era a que eu queria, era uma voz masculina e forte, ouvi mas não me virei, não queria ninguém ali, e muito menos que ele visse minhas lágrimas, mas minha voz trêmula era algo realmente denunciador.
— Me incomodo, estou bem sozinha. — disse eu com a maior firmeza que concebi.
— Desculpe minha insistência, mas esse lugar não costuma ser muito seguro a essa hora, e sei que pode não acreditar em mim, sou um estranho, mas não quero te fazer mal, me sentiria péssimo em deixar uma jovem tão linda aqui sozinha... Posso ao menos te oferecer uma carona?
Aquele homem era insistente e não parava de falar coisas gentis, isso não seria um problema, mas eu estava péssima e eu queria ouvir tudo aquilo, mas não daquele senhor, então fui o mais franca possível, virei-me e comecei a falar, já não me continha nem escondia lágrima alguma:
— Não aceito carona, e sim estou sozinha aqui, e não me importo se acontecer alguma coisa comigo!
— Você... — Ele fez um momento de pausa e ficou me olhando, eu não sabia exatamente o que ele pensou, mas ele tirou seu casaco e me deu naquele momento e me abraço — Está tremendo de frio! Por favor, se quiser pode sentar comigo aqui, ou em outro lugar e conversaremos, mas não vou te deixar sozinha, e muito menos chorando desse jeito!
— Você nunca entenderia! E eu não quero falar disso com o senhor! — Disse eu me afundando naquele casaco macio que quase me aquecia, eu não sentia medo dele, e ao que parecia todas suas energias estavam concentradas em mim.
— Deixe-me ao menos te levar para casa, não te farei mal, te dou minha palavra.
— Não tenho para onde ir. — disse eu com um embargo absoluto.
— Como? Onde está sua família? De onde você é?
— Sou de uma cidade pequena bem distante daqui, tenho mãe e irmãs, mas não tenho para onde voltar... — coloquei a mão na cabeça e me abracei, mal percebi quando escorreguei até o chão enquanto falava — O senhor nunca entenderia! Eu estou aqui e larguei tudo, não tenho para onde voltar, e eu esperava que alguém estivesse aqui por mim... Mas, não está! — Eu olhava para o mar e chorava mais ainda, a respiração falhava, tudo doía.
— Você veio ver alguém e essa pessoa não veio a seu encontro? É isso. — concluiu ele enquanto tentava me levantar e me confortava num abraço tão acolhedor que mal percebi que já estava em volta de seus braços.
— Sim. É isso. — Respondi enquanto respirava profundamente o aroma de seu casaco, cheirava a perfume importado, dos bons, daqueles que a gente acha que só verá em filmes.
— Conte-me tudo sobre. — disse ele enquanto afagava meus cabelos.
— Eu nunca vi o mar antes, de onde eu vim não tem mar... E eu sempre quis estar aqui, e estar aqui com alguém, e essa pessoa não está aqui porque fez o que qualquer outra pessoa faria: iria embora.
— Mas você não foi. — disse calmamente.
— Não, não fui. — disse eu tentando controlar a respiração.
— Isso mostra que você não é qualquer pessoa. — disse ele olhando em meus olhos.
— Isso mostra o quão idiota eu sou. — disse eu fazendo brotar um sorriso irônico entre meus lábios.
— Isso mostra que essa pessoa é um idiota, porque deixou uma garota linda como você para trás e fez o que qualquer um faria, posso te dizer uma coisa? Eu não faria o que qualquer um faria.
Isso realmente me fez rir.
— E o que o senhor faria?
Ele me olhou por uns dois minutos com ar de curiosidade, então me soltou e começou a falar:
— Ainda não tive o prazer de me apresentar, meu nome é Roberto, e eu fiquei intrigado ao ver sua silhueta de longe, e totalmente encantado quando vi seu rosto... Mas fiquei totalmente fascinado por você quando começou a falar, ora, você aparenta ser tão jovem, mas tem um brilho no olhar que parece se apagar aos poucos, e ao mesmo tempo é a pessoa mais enigmática que eu já conheci, eu não consigo te ler, e olha, sou bom com essas coisas.
Eu não esperava por isso.
— Não estou entendendo senhor...
— Não me chame de senhor, me chame de Roberto, e eu poderia ficar aqui falando coisas ou simplesmente ter ignorado tudo isso e ido para minha casa, mas algo me fez ficar, e eu sei que você pode em chamar de louco ou de tarado, mas eu preciso te fazer uma proposta e espero que você a veja com os bons olhos que eu vejo, me permite te perguntar algo? Se não, prometo te deixar em paz, e sou um homem de palavra.
— Não tenho nada a perder.
— Excelente, era isso que queria ouvir, bem não sei quem ou porque motivo, alguém que deveria estar aqui não está, mas eu estou, e eu quero você para mim... — engoli a seco suas palavras pretenciosas que soavam com uma calma confortante — Não, não se assuste! Eu quero que seja minha mulher, que esqueça tudo que te trouxe até aqui, porque você, de alguma forma estranha veio aqui para me encontrar e eu também, e eu quero te conquistar, isso é um jogo pequena, e eu tenho regras: me dê uma semana.
— Não estou entendendo se- ... Roberto. — Não conseguia compreender, mas ao mesmo tempo eu não sentia medo algum e tinha que admitir, ele foi a melhor coisa que me aconteceu até então.
— Eu vou te conquistar em uma semana, se você se apaixonar por mim, como eu estou me apaixonando por você, você terá tudo o que sonhar e eu puder te dar, e acredite; não é pouco! Mas não quero que você fique comigo pelo meu dinheiro somente, uma semana, pequena, se não se sentires a vontade, se não sentires o mesmo te levo para onde você quiser e te deixo em paz, mas, você precisa me responder agora, aceita?
Meu coração disparou e eu pensei em todos os motivos que me levaram aquele farol, como eu estava totalmente perdida e sem ter para onde ir, e sobre tudo, naquele homem encantador que me oferecia o mundo quando alguém que era meu mundo simplesmente me despedaçou. Não havia o que pensar, ou qualquer arrependimento.
— Sim.
— Ótimo! — disse ele sorrindo e batendo as mãos levemente enquanto molhava os lábios, te levarei para um hotel, mas não se preocupe, não acompanharei, tenho uma semana! Vou usá-la com sabedoria, mas diga-me, o que aconteceu com essa pessoa e você?
— Você disse que queria que eu esquecesse tudo que aconteceu até aqui, não foi isso? Então, é exatamente isso que vou fazer, e mais, tenho uma regra: você nunca vai me obrigar a fazer nada que eu não queira, e isso inclui não falar de nada que eu queira esquecer.
Ele sorriu e concordou com a cabeça, apoiou suas mãos em meus ombros e falou com satisfação:
— Você é incrível, pequena! Mas vamos! Está ficando muito frio, vamos para meu carro, te deixarei no hotel e amanhã te acompanharei até algum lugar interessante.
— Tudo bem. — me resumi a dizer apenas isso, quanto mais me resumia, mais curioso ele ficava.
Caminhamos um pouco em direção a sue luxuoso carro, o silêncio da noite foi irrompido por sua voz forte e protetora, ele fava empolgadamente sobre os planos de amanhã, e depois, e depois, e depois... Quando paramos em frente a seu carro ele deu uma pausa e falou antes de abrir a porta para mim:
— Só preciso saber de mais uma coisa... Qual seu nome?
Não fazia sentido falar a verdade, meu passado já não me pertencia, então, achei coerente ter um novo nome, uma nova idade, e pouquíssimas coisas eu levaria para essa nova vida, que mal sabia ele, eu já aceitara viver, sorri e sussurrei em seu ouvido:
— Alice.
Ele beijou minha mão com satisfação, abriu a porta do carro e falou:
— Bem vinda ao meu mundo, Alice, uma linda vida espera por nós, não tenho dúvida que conseguirei você.
Ele realmente tinha conseguido Alice, mas ninguém, por mais esforço que fizesse alcançaria quem eu fui, qual era meu nome? Isso não importa, de agora em diante sou Alice, e vou ter tudo que eu posso ter, este homem entrou em minha vida como um anjo, e literalmente me abriu as portas do paraíso.
Me levou ao hotel mais caro da cidade, levou-me a suíte presidencial, até a porta, sorriu e me despiu com os olhos, com força e ao mesmo tempo delicadeza, como uma criança olha para seu novo brinquedo de natal, aquele, que ela esperou um ano para ganhar, Beijou-me a testa, a face e me deu um breve beijo, um beijo não, foi mais um leve tocar de lábios, senti o gosto de cigarro em sua boca, acariciei seu rosto e ele se afastou.
— Até amanhã, minha pequena Alice. Até amanhã!
Fechou a porta com satisfação e saiu, eu deitei naquela cama enorme e macia e desabei em prantos, mas, eu tinha certeza, seria a ultima vez que eu choraria na vida, por aquele motivo.



CONTINUA.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Alice em 2 partes: Primeira: Pai e Filho

Conheci Roberto no Outubro passado, e Deus, não há no mundo ninguém melhor que ele, nunca, nunca conheci um homem tão bom para mim, que me tratasse tão bem, ele definitivamente me salvou daquela viagem fodida que tinha acabado com boa parte do que ainda tinha em mim, da minha inocência .. Mas não vou falar sobre isso aqui... Não! Estou aqui para falar que Roberto, como um anjo caído do céu entrou em minha vida.
Ele e seus cabelos grisalhos repicadinhos e bem baixos, aquele sorriso perfeito, era muito fácil querer estar com ele, um homem tão generoso, sempre disposto a abrir sua carteira, como o fez com seu coração, viagens, cursos, roupas, eu não me constrangia  era natural, ele queria uma mulher à sua altura, que troca-se um pouco mais do que vinte palavras com seus amigos, e seus amigos me comiam com os olhos, embora todos respeitassem o meu Roberto, eles diziam "Rob, ela poderia ser sua filha!" e ele respondia "mas, olhe para ela, ela é!", então ele me colocava no colo e acariciava minhas coxas, todos riam... Menos eu. Roberto mal sabia o quanto ele parecia com meu pai nesse aspecto... Mas, essa é outra lembrança que eu fazia questão de esquecer... 
Afinal, o velho já tinha batido as botas a muitos anos, em brigas de bares nem sempre os envolvidos voltam para casa... Vivos! Mas, vamos esquecer disso, okay? Roberto, ah, Roberto, definitivamente eu estava confortável com ele, e ele se divertia muito comigo também, ficou surpreso com a quantidade de coisas que eu já sabia, mesmo aos dezessete, levávamos uma boa vida, naturalmente Roberto era casado e eu morava em um flat muito bem localizado no centro da cidade, ele me visitava regularmente, mas morava com a esposa, e eu com tudo o que uma mulher possa querer ter na vida, e o melhor: a minha solidão, poucas pessoas a apreciavam como eu.
Luxo, conforto, um homem que lambia o chão que eu pisava... O que mais eu iria querer?
Ah, mulheres! Nunca satisfeitas, claro que eu queria mais alguma coisa: Felipe. 
Conheci Felipe porque ele estava onde não deveria estar, ou eu e Roberto não deveríamos estar, ou eu estava exatamente onde iria querer estar, só não sabia ainda. Roberto e eu costumávamos passar as manhãs de sábado numa praia privada ao leste da capital, local impecável, uma casa de madeira luxuosa, um cenário paradisíaco, não havia uma única nuvem no céu, os pássaros voavam ao longe e o único som que eu ouvia era o das ondas quebrando na praia. Um paraíso, mas que no inicio me pareceu mais um inferno.
Estava recebendo uma massagem de Roberto quando escuto a voz de um homem esbravejando um "o que significa isso?", então, Roberto soltou minhas costas, levantou-se e respondeu gaguejando "e-eu, eu posso explicar, filho".
Filho. Roberto nunca tinha mencionado que tinha um filho! Levantei a cabeça para ver quem era aquele homem tão irritado e tive que segurar meu queixo para ele não ir ao chão. 
Felipe não parecia em nada com o pai, embora os dois tivessem exatamente o mesmo ar charmoso, só nisso eles pareciam, Felipe tinha a pele bem mais clara, cabelos bem pretos e cheios, meio ondulados, embora curtos como os do pai, um liso bagunçado que dava vontade de puxar, e puxar com força, seus olhos eram tão azuis quanto as águas daquele mar, sentia minha pele sendo arranhada levemente só de ver sua barba fininha, falhada, braços relativamente fortes, sua tatuagem que cobria completamente seu braço direito e aquela boca rosada que proferia mais palavras do que eu poderia acompanhar naquele momento, e nenhuma delas era agradável, eu tinha certeza.
Roberto puxou Felipe para um canto para conversar a parte e eu coloquei de volta a parte de cima do meu biquíni, vesti minha blusa, eu estava me preparando para a guerra, eu finalmente tinha a vida que eu sempre quis, não seria esse moleque - por mais gostoso que fosse- que iria acabar com minha paz, a, não mesmo! 
Eu estava pronta para usar qualquer argumento para convencê-lo, quando os dois voltaram, muito mais calmos, eu esperava sentada ainda na praia, pensando no que falar e simplesmente não tendo sucesso, mas, para a minha surpresa eles voltam calmos, bem calmos por sinal, Roberto dá um sorriso tenso e começa:
— Conversei com ele, está tudo resolvido, aliais, Alice, este é Felipe, meu único filho, ele estava concluindo seus estudos fora do país, ele não vai falar nada para Marlene, o fiz entender que essas coisas são naturais na vida de um homem, um dia ele também passará por isso. —  completa dando dois tapinhas nas costas do filho que não me olhava com qualquer cordialidade.
— Prazer em conhecê-la, Alice, como meu pai disse, não contarei nada para mamãe.
Ele me fuzilava com os olhos, e eu não o culpo, embora eu tinha consciência que tinha que fazer algo, o que fosse, as coisas não ficariam assim.
A noite chegou arrastada, oras, não me sentia confortável com aquilo tudo, nem Roberto, mas ele logo adormeceu e eu levantei com as pontas do pé, atravessei aquele quarto imenso e fechei aquela porta de madeira pesada com a maior sutileza que consegui e fui caminhando, fui vasculhando de quarto em quarto até encontrá-lo, quase esqueci o porque tinha ido até ali, era um anjo dormindo, ou, o mais parecido que eu iria chegar a ver de um anjo na vida. 
Fechei a porta cuidadosamente e fiquei ali, parada encostada a porta pensando no que fazer, ouvindo o barulho do mar e sua respiração profunda, não resisti muito tempo e fui em sua direção, precisava tocar aquele rosto, não sabia onde estava a minha cabeça, e nem ao menos queria saber, mas, quando cheguei a centímetros de seu rosto ele acorda e segura minha mão com força.
— O que você está fazendo aqui, vadia?

CONTINUA.

domingo, 23 de dezembro de 2012

O TOMBO QUE EMPURRA (conto de alguém que não tem muito a dizer, parte 2)



Bianca V, Julho de 2009

Essa história começa a alguns anos atrás, a algumas viagens atrás para ser mais específica, sempre gostei de expressar o que eu sentia, mas, para ser exata eu não me sentia exatamente bem, mas, um banho de chuva e uma viagem sempre salvam a vida da gente, nos renova, não é verdade?
Os fatos são aleatórios e os sentimentos também, nesse tempo, eu julgava ser meu amigo quem roubou um pouco do que eu achava que era meu. Engraçado isso, essa roda, as voltas que a vida dá, mas comecemos quando ela deu o primeiro giro nesse enredo atemporal de lembranças, fantasias, imagens e impressões.
Tudo começou com o tropeço que empurra, uma queda abrupta, um término agoniante, a vida é um pouco disso mesmo, é um pouco do que a gente quer que seja, e não quer de jeito nenhum;  estamos falando de um rompimento, sabe como é, sempre te um lado que se fode mais do que o outro, mas não quer dizer tchau, tolos são nossos corações até que aprendemos o valor da perda, ou da diversão ilimitada que podemos ter, tudo é questão de ótica.
Mas, vamos lá, a gente acabou, fins de relacionamentos, garotos choram como bebês e bebem o suficiente para ficar com a primeira idiota que aparecer e quiser dar pra ele, garotas procuram consolo em ombros amigos, que muitas vezes tem terceiras e quartas intensões, e esse foi  exatamente o caso; não demorou muito para ela me trocar por uma vadia, é o que geralmente acontece quando o amor acaba, e eu tive que com isso, enquanto elas fodiam. Ela deveria foder melhor que eu – como dizem, experiência é tudo, e, ela quantidade de pessoas que eu conheço que ela já fodeu, ela deve no mínimo fazer gostoso – não que eu faça mal, mas estou certamente em desvantagem, transei apenas com duas pessoas (uma de cada vez!) a vida inteira, não como uma prostituta profissional, ou alguém que já transou com a maioria dos meus amigos, mas, como uma mulher apaixonada que faz amor entregando o corpo e um pouquinho da alma.
De qualquer forma, a coisa toda incomodou durante um certo tempo, mas logo parou de fazer sentido, já estava maculado. A gente costuma atribuir ao primeiro amor uma pureza quase santa ao primeiro amor, porém não deveríamos fazê-lo, ele não é eterno (com raríssimas exceções, é claro), por mais que pareça, ele só te prepara para todos os outros que ainda estão por vir, e deixa boas cicatrizes no processo. 
Para falar a verdade, não ando com muito tempo para devagar, sobre o amor, a estrada está sendo devorada pelos pneus que cantam madrugada a fora, estou indo à Brasília com uma pequena câmera em minhas mãos e a pouca bagagem que minha mochila pode carregar, e tantos lugares (pessoas) para conhecer. Possibilidades. Adoro essa palavra.
Peguei a estrada e deixei uma vida inteira para trás (depois eu conto a história, ou não, sofrida e longa demais) e agora, quero me sentir viva na capital do meu país, e fazer lá algumas histórias que não serão contadas aos meus filhos, ou netos; quem sabe fazer amor com uns três desconhecidos, dizem que é om para treinar, não? Bianca quer viver, e é o que Bianca fará.
Céus, o dia já amanhece enquanto escrevo! Preciso dormir, aproveitar que (ainda) todos estão em silêncio, descansar é preciso, logo terei a sensação que mais adoro: ser uma desconhecida em um lugar totalmente novo.  Às vezes vale a pena pegar um ônibus, enfrentar horas e horas de viagem, deixar tudo para trás, valerá a pena? Não sei, mas tenho certeza que vou descobrir.




quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

INÍCIO (conto de alguém que não tem muito a dizer, parte 1)


Tenho algumas coisas para falar, não são as mais sábias ou mais inteligentes do mundo, mas são as coisas que eu quero expor aqui. A história de uma garota que não tinha muito com o que se preocupar, ou porque sonhar, mas, pegou sua câmera e saiu fotografando o mundo, a vida, suas impressões, e no fundo era exatamente isso que eu planejei para a minha vida: uma vida na estrada sem muitas preocupações, uma câmera e algumas histórias para contar, posso aumentar algumas coisas, mas no fundo, juro que é tudo verdade, e a minha verdade eu mostrarei através da lente da minha câmera  Você quer ver minha verdade? Ou acharia melhor lê-la? 

(Não é sobre mim, mas poderia ser, ou será que é?) 

sábado, 1 de dezembro de 2012

Noite - parte II




Quase levantei de susto quando abri os olhos e a vi debruçada em minha barriga, uma mão apoiada na minha coxa, a outra enrolava uma nota de algum valor que eu não conseguia enxergar e se abaixava para cheirar o pó que havia derrubado em mim, mas antes, levantou minha blusa até a altura dos seios e ajeitou cuidadosamente uma carreirinha que ia da altura de meu sutiã até a barra do meu short.
Em pouco tempo começou a cheirar tudo que podia e quando não aguentou mais começou a lamber o pó, eu estava quieta observando ela entrar em frenesi e procurar meu corpo com a urgência de quem tem fome, ela me puxou para baixo e me tomou pelo braço, entramos no carro, fomos para o banco de trás e mal sentei quando ela começou a me beijar ainda com a boca suja de pó, logo senti o gosto amargo da cocaína e a dormência em minha língua que não parava de mover-se, bailando junto da dela que aos poucos tirava minha roupa,  logo ela pula para o lado e joga o pouco de pó que sobrou entre seus seios e me entrega a nota dizendo:
– Guardei um pouco para você, fica chapada comigo!
Sem relutância obedeci e logo senti toda aquela euforia e formigamento tomar conta de meu corpo, e sem demora também procurei o dela, aquilo passaria mais rápido do que eu poderia aproveitar, sabíamos disso. Explorei cada centímetro de seu corpo arrepiado como se fosse meu ultimo segundo na terra, aquela sensação de tato que compartilhávamos era inebriante, muito além de qualquer outro, sentia sua pele literalmente como se fosse a minha, com as duas mãos ela me afundou entre suas pernas, exigia prazer, nossos corações pulsavam em uma violência e velocidade absolutamente intensa enquanto eu me livrava de sua calcinha e sentia seu gosto com a ponta de minha língua até que toda minha boca é envolvida por todo aquele gosto e aroma doce, delicado, num ritmo lento o suficiente para sentir cada suspiro seu, rápido o bastante para fazê-la gritar de desejo enquanto afundo minhas unhas em suas coxas, e ela afunda minha cabeça entre suas coxas, em pouco tempo meus dedos e minha boca tomavam conta de sua região íntima e satisfiz, seu corpo latejava por inteiro, assim como o meu, descansei sobre seu corpo, o carro era apertado, mas cabia nossos corpos encaixados, sentíamos o frio da madrugada entrar pelas janelas.
O céu estava roxo e todas aquelas estrelas pareciam nos engolir enquanto nossas respirações começavam a se acalmar, eu a mantinha entre meus braços enquanto ela tentava ascender um baseado amaçado que encontrara no chão. Um gole de vodka, uma tragada, o calor de seu corpo e o frio gélido do vento, vento esse que canta, quase geme em reclamação, estrelas cintilantes, calidoscópios nas pupilas, nada poderia atrapalhar aquele momento perfeito. Adormeci.


O vento batendo na cara, com violência, bato a cabeça na lateral do carro, acordo no banco do carona ouvindo ela gritar:
– Coloca o sinto e se segura! – diz ela acelerando cada vez mais, só ali me dou conta que o carro está em movimento e a mais de 100 por hora.
– O que porra é isso? – pergunto eu colocando o cinto com certa dificuldade, o carro não parava de balançar, estrada de barro cheia de curvas – como chegamos aqui?
– É uma longa história, mas por, hora vou tentar nos manter vivas, não faça perguntas!
Apertei o sinto, e em seguida, sua mão com força e disse entre um sorriso:
– Tudo bem, vamos para a estrada!
Estávamos sendo perseguidas por um carro que quase nos alcançava, não fosse a ousadia da minha pilota, sentia medo e mais medo em cada curva, mas eu não me importava.
Vida rápido, esse é o recado, não?

CONTINUA.

~ We were two kids, just tryin' to get out, live on the dark side of the american dream.  Withou You, Lana Del Rey

Link da parte um: http://i-in-rouge.blogspot.com.br/2012/10/noite-parte-i.html

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Inesperado - parte II (final)



Continuamos naquela dança de beijos e carícias, o mundo girava apressado enquanto eu tocava seu corpo, sussurrava qualquer bobagem e voltava a tocá-la, apertando com gana aqueles quadris a centímetros de despir a pouca roupa que lhe restava, não sabia que horas eram, mas, não havia passado tanto tempo assim. Ela também se apoderava de meu corpo, como um poceiro que acabara de encontrar o seu lugar, porém ainda com zelo, não tendo certeza se lá poderia ficar, quando finalmente ficamos ser ar paramos com todos aqueles beijos, e ficamos respirando lentamente entre risos e cochichos, ela tocou meus lábios com sutileza, logo em seguida passou a mão por meus lábios, tocando-o com cada um de seus belos dedos, repousando sua mão em meio seio, sorria satisfeita naquele breu onde seus olhos pareciam um azul marinho turvo, mas totalmente convidativo para um mergulho, ela beijou meu colo e falou, bem baixinho de forma que eu quase não entendi:
— Preciso de um banho! Não consigo dormir sem tomar um! — disse enquanto contornava meu seio esquerdo com uma das mãos.
— Hum...? Ah, Tudo bem! Eu também tomaria um, mas estou sem nenhuma muda de roupa, mas, pode ir, vou te esperar aqui, garanto não fugir! — disse eu vendo-a vestir sua blusa e distanciar-se a passos curtos e contidos, a vi entrar no quarto onde repousava a moça que dividia apartamento com ela - dormia a sono solto, provavelmente nem notara que eu estava lá. — A vi sair do quarto e entrar no banheiro, barulho de água abundante do chuveiro, cheiro de pêssego e algum aroma doce que eu não conseguia identificar.
Enquanto ela tomava seu banho noturno eu sentia o peso do álcool em meu cérebro e tudo em volta girava, aquela sala parecia maior, fiquei deitada sentindo toda aquela rotação, na qual minha cabeça girava em torno da lua, ou do sol, quiça em volta da lâmpada que estava apagada, ou daquela luz vermelha do stand-bye do televisor, não sei quanto tempo ela demorou, quinze ou vinte minutos, sei que não tentei pensar em nada até então, a certos momentos em que pensar é totalmente desnecessário.
Logo ela voltou, com aquela mistura de aromas que prendeu minha cabeça no eixo de seu corpo, voltou com uma blusa de tamanho maior que seu manequim, alguma daquelas blusas de jogos escolares, — ela, como eu, era goleira de hanbal no ensino médio — estava com aquela blusa e uma calcinha fininha que eu não conseguia identificar a cor, logo ela deitou perto de mim e me procurou, começamos mais uma maratona de beijos, sempre interrompidos por comentários como "é estranho!" e risos, seguidos de mais beijos e mais comentários, "é estranho!"; realmente era estranho, o álcool começava a sair e a consciência a voltar, e ela era minha amiga, e eu estava na sala da casa dela beijando-a com ardor e com timidez no fim das contas. Porém, isso não foi o suficiente para pararmos.
Ela se livrou da blusa, alegando que não se sentia a vontade dormindo com roupas, sentou-se e tirou-a na minha frente e fitei seus seios tão lindos e brancos, não tive escolha se não senti-los em meus lábios, com minhas mãos, enquanto sentia suas unhas cravando minhas costas e arrancando minha blusa, senti os lábios dela em meus seios e tive que conter qualquer reação, afinal não estávamos sozinhas no recinto, embora minha vontade fosse de ir bem mais além. Esse jogo durou horas, não sei quantas, mas foram curtas longas horas de beijos, provocações, de mãos, pernas, arranhões, chupões, puxões e mais beijos e mais constrangimento, de que certa forma fora um tanto quanto gostoso. Um momento de sedução e delicadeza que poucos casais se permitem ter, numa situação parecida.
Frequentemente me pegava explorando seu corpo, desenhando lentamente meus dedos em suas tatuagens e mordiscando o corpo dela, ela me puxava o cabelo e mordia minha orelha, então parávamos e começávamos a rir, nos aninhávamos uma nos braços da outras e fazíamos carinhos, beijinhos, e íamos avançando até o ponto onde gostaríamos de chegar, mas não chegaríamos, não naquela noite.
Noite essa que logo virou dia, sem sono, com risadas e vontades nos despedíamos de toda a euforia do bar, da lascividade da chegada, os ânimos eram acalmados lentamente, mas aquela noite, suas surpresas e sensações ficariam gravadas para sempre em nossas mentes, junto de toda aquela cumplicidade e o sorriso solto que nos acompanhou até de manhã, e foi assim, cercadas de sentimentos novos e constantes que dormimos abraçadas e semi-nuas na sala de sua casa num colchão em baixo de um edredom aconchegante.
Amanheceu domingo e eu estava enrolada na coberta começando a despertar, ouvi ao longe cochichos de minha amiga e da garota que dividia apartamento com ela:
"Ela é sua namorada? Uau! - Dizia a amiga dela entre risos, mexendo em alguma coisa que do meu ângulo de visão eu não conseguia enxergar.
"Não, ela é minha... Amiga, dormiu hoje aqui comigo..." — Dizia minha amiga tentando cortar o assunto, ela já havia me dito que não gostava de falar da vida dela com aquela moça.
"Vocês estavam dormindo abraçadinhas! EU vi! — Ela insistia em arrancar alguma informação, eu só pensava "ou droga, ela viu!"
"Você não viu nada, tchau! - Nesse momento fechei meus olhos, minha amiga acompanhava a outra garota até a porta, a garota saiu e ela voltou para mim.
— Ela queria saber da gente... Achei melhor não falar, disse ela me beijando o pescoço.
— Tudo bem, afinal, somos amigas, não tem porque falar isso a ninguém, muito menos a ela que costuma dizer qualquer coisa a todo mundo... — disse eu beijando-a e envolvendo-a em meus braços outra vez.
Começamos tudo de novo, mas dessa vez, sozinhas em casa as coisas começavam a ficar mais quentes e os desejos da noite passava voltavam com mais força, nossas mãos já desenhavam exatamente o caminho que queriam trilhar, os beijos ficavam mais molhados, a respiração cada vez mais pesada, nossas pernas tão bem encaixadas e minha boca devorando seu seio com força, deslizando a língua sob a barra de sua calcinha, até que... Até que minha mãe ligou.
— Puta merda! São são onze da manhã! — Disse eu pulando do colchão e atendendo o telefone, eu teria que ir embora, embora quisesse ficar, tinha medo que as coisas voltassem ao seu normal quando eu saísse por aquela porta, ao mesmo tempo tinha medo que elas continuassem como estavam, pois no dia seguinte as coisas começavam a pesar mais e eu tinha medo de estragar tudo — afinal de contas, eu fazia isso como ninguém!
Depois de um dos beijos mais demorados que já dera me despedi dela e sai sem saber ao certo o que tinha sido aquilo, ou como as coisas ficariam depois disso, eu simplesmente não fazia ideia!
Só sei que saí com um sorriso que eu não dava a meses e que seus olhos verdes brilhavam para mim como duas esmeraldas, tudo que aconteceu naquele dia poderia ter ido bem mais além, mas acho que chegamos até onde deveríamos chegar, eu já entendera que o paraíso não estava tão distante de mim, como sempre achei, e que de certa forma aquela noite nos marcaria para sempre.
E quer saber de uma coisa? Não via a hora de que acontecesse algo parecido de novo, e que essa vez não seria a ultima. 


domingo, 11 de novembro de 2012

Inesperado - parte I



Nossa, como eu queria vê-la! Minha amiga tão querida que eu não via a muito, por minha culpa, é claro, eu tenho aquela velha mania de sumir e reaparecer quando bem entendo, ela mesmo brincava, dizendo que eu era sua fantasma por excelência, eu, bem, por mais que eu me afastasse, nunca fiquei longe o suficiente para não saber voltar, afinal, eu sempre achava o caminho de volta. 
Eu tinha chegado primeiro no lugar, ambiente conhecido, era o único bar da cidade que tocava música descente, que tinha uma decoração retrô e luzes verdes em meio aos leds coloridos, vários painéis com artistas do década de 40, me fazia sentir em casa, entrar em conexão com uma época glamourosa que não vivi, tudo isso ao som de Lady Gaga.
Peguei uma cerveja e me sentei no balcão, não demorou muito para encontrar alguns conhecidos, tudo é muito fácil e divertido quando o copo está cheio, logo eu estava sorrindo de alguma besteira dita por um dos meninos, e me esqueci completamente do porque tinha ido para aquele lugar; até que uma mão tocou meu ombro e me fez virar. Meu Deus, o que foi aquilo?
Lembro como se fosse ontem, a música tinha mudado, estava tocando "Ainda Bem" de Marisa Monte, e meus olhos captaram tão bem aquela cena, quanto meus ouvidos a melodia, era... Nossa! Era linda! E como ela estava linda!
Era ela sim! Tão linda como eu nunca tinha visto, ela sempre foi linda, seus olhos verdes sempre foram algo desconcertante, mas naquele dia ela estava especialmente sensual, aquele lápis contornava o mar de sua íris de tal forma que o universo inteiro parou por alguns segundos só para que eu pudesse memorizar aquele momento, aquela deusa com sua saia preta de cintura alta e blusa branca, seu salto agulha, cabelo negro e esvoaçante, e o sorriso mais lindo que eu já tinha visto até então. Uau! Peraí, uau? Ela é minha amiga, por Deus, para! Mas eu não parei, esse foi o primeiro dia que eu a desejei como mulher.
Logo saí de transe e a abracei, entrei em outro; seu corpo exalava um perfume tão doce, sua pele tão macia e branca, eu não queria soltá-la, mas logo o fiz.
Foi uma noite divertidíssima, conversamos, dançamos - ela dançou, já eu, bem, não é fácil manter alguma sincronia quando se tem dois pés esquerdos - o tempo passando e eu ficando cada vez mais encantada com seu sorriso, e as brincadeiras e provocações começaram, - a gente sempre se provocava muito, mas nunca tinha levado a sério — risadas, toques de mão, cintura, coxas, quase beijos, olhares tentadores... Ela sempre foi mestre em provocar, eu era sempre tão desligada, mas nesse dia eu sabia muito bem o que queria: ela.
Minha timidez barata não me deixou fazer muita coisa lá dentro, mas o copo já estava vazio e a coragem tomando conta de mim, a hora avançando e eu não estava sóbria o suficiente para ir para minha casa, a solução? Dormir no apartamento dela.
Pegamos carona com algumas amigas dela, saí do carro cambaleando um pouco, demos boa noite para o porteiro e logo adentramos no prédio, ela trancou a porta e eu não esperei nenhum minuto, a beijei ali mesmo, na porta daquele corredor vazio, a beijei com toda a vontade e desejo que fora desperto naquela noite, rolamos pelas paredes, tropeçando em nossos próprios pés, nesse momento eu esqueci completamente que quem estava ali era a minha linda amiga de tantos anos, eu a queria e era isso que importava naquele momento.
Ela não havia bebido, então abriu a porta de seu apartamento sem maiores dificuldades, continuamos nos beijando e nos livrando das roupas com pressa, passaríamos a noite na sala mesmo, num colchão que já estava por lá, algo me disse que a noite seria longa, longa e feliz, e eu não estava enganada.



sábado, 3 de novembro de 2012

Como se fosse ontem



Ela desce as escadas – meu coração dispara num impulso de coragem, aquele momento em que puro e simplesmente ele sussurra: este é o momento – ascendo as luzes ainda em cima das escadas – a olho mais uma vez e contemplo sua beleza, aquele cabelo negro voando contra o o vento, aquela lua incrivelmente dourada e brilhante que começava a se esconder sob nuvens escuras, a hora estava chegando – ela me espera no portão e eu desço, ficando logo em sua frente mirando seus olhos verdes límpidos enquanto ela me falava qualquer bobagem, minha mão estava sob o interruptor, apagam-se as luzes e nem a lua consegue iluminar, um beijo roubado, um beijo correspondido - meu coração saltava o peito enquanto meus lábios tocavam os dela, não era o primeiro beijo, mas, era como se fosse, aqueles lábios tão doces, tão macios, aquela boca que me fez sucumbir por instantes, momentos, minutos, não sei, não sei dizer ao certo quanto tempo nossas línguas se entrelaçaram, sei, que foi tempo suficiente para eu querer mais, – ascendo as luzes e vejo a confusão nos olhos dela, ela realmente não esperava por aquilo! Mas,  no meio de tudo isso, ela sorriu, não haviam dúvidas que ela também queria, seu coração batia exatamente como o meu, só então consegui libertá-la de meus braços e abrir as portas para acompanhá-la até parte do caminho para acasa, e eu tinha, mesmo que sem ela saber, encontrado o caminho de volta para meu coração, e nem a lua foi testemunha, ah, mas ela foi!