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sábado, 27 de julho de 2013

Alice em duas partes: querida Amanda



“ My mother accused me of losing my mind, but I swore I was fine”.

Um redemoinho de sentimentos, a dor no pé, toda aquela sensação de estar em um filme, de estar em um filme que voltava mais rápido do que eu poderia me situar, eu voltava para o clímax de um filme antigo que eu quis tanto enterrar, das lembranças que eu, quando jurara não mais lembrar de quem eu era antes de ser Alice, jurara esquecer, matar, assim, como quem eu era. Mas, como fazer tudo isso? É ela porra, o que podemos fazer quando nosso passado simplesmente bate em nossa porta?
A mente humana... Penso pouco nessas questões existenciais, não tenho tempo para isso, apenas ouço falar quando por tédio folheio alguma revista feminina barata no salão de beleza, sempre há algo assim para se ler, esses artigos pseudo-filosóficos, aqueles artigos que vem logo depois do “como emagrecer 10 quilos com a dieta da lua” e antes do “20 posições para enlouquecer seu homem”; tão pouco pagaria algum psicólogo para falar de meus problemas, bem, não costumo falar deles nem de graça! Mas, provavelmente existe alguma teoria dizendo que algumas ações, por menores que sejam acabam desencadeando reações maiores, existindo ou não, eu acabo de comprovar o quanto mexeu comigo aquele “quem é você?”
Tá aí uma pergunta que não sei responder, quem sou eu? Aquela menina chorona que Roberto encontrou no Farol, ou essa mulher forte que venho lutando para ser? Ou essa garota fragilizada com o pé sangrando e que ainda pisa em cacos... Por muito tempo, eu achava que se tinha alguém no mundo que sabia que eu era, essa pessoa seria ela.
— Ninguém que você conheça, achei que era alguém que eu conhecia, mas, foi apenas impressão minha. — eu falei isso mancando para a cadeira mais próxima, precisava ao menos tirar os cacos de vidro de meu pé para poder pensar melhor, mas de fato, aquela mulher... Eu não fazia ideia de quem era, mesmo em tese sendo ela. Mas, para todos os efeitos, Alice nunca conheceu Amanda, ou seja lá quem ela seja agora.
— Olha o seu pé... Vou pegar a caixa de primeiros socorros, onde meu pai se meteu nessas horas? — disse Felipe com cara de preocupado, mesmo resmungando enquanto se distanciava, deixando eu e ela sozinhas na varanda.
— O que diabos você está fazendo aqui, Ca... — Amanda começou a falar.
— Alice, meu nome é Alice — disse eu cortando a fala de Amanda enquanto arrancava os caquinhos de vidro restantes. — Eu é que pergunto, o que VOCÊ está fazendo aqui Amanda?
— Escuta, Felipe voltará em breve, mais tarde eu te encontro na praia, lá pelas duas, e te explico tudo, okay? — disse Amanda de maneira intimista.
— O que você tem a esconder, Amanda? Por que eu te ajudaria? — disse eu vendo o sangue começar a estancar em meu pé.
— Eu prometo que te recompensarei mais tarde — disse ela segurando meu queixo e me fazendo olhar em seus límpidos olhos azuis — E também vou querer saber exatamente o que você faz nessa casa.
Não tive tempo para questionar, ou se quer responder malcriadamente, logo ouvi a voz estrondosa de Roberto irrompendo pela porta, ao lado Felipe com cara de desconfiado segurando uma maletinha de pequenos socorros.
— Certo — foi a única coisa que pude dizer, assim que cruzou a porta, Roberto me colocou no colo como se eu fosse sua criança indefesa, pegou a maletinha com a outra mão e me levou para o quarto enquanto falava o quanto eu era frágil e que e não deveria me preocupar, pois, ele cuidaria de mim.
— Felipe, acomode sua namorada! Mais tarde nos veremos, aliais, muito prazer em te conhecer Amanda!
— Igualmente, senhor Roberto! — disse Amanda com um belo sorriso.
— Oh, não me chame de senhor! Eu poderia ser seu namorado! Veja a minha Alice aqui! — disse ele rindo e subindo as escadas. Acho que Amanda entendeu o que eu fazia ali.
Não tive coragem de tentar encará-la novamente naquele momento, Felipe apenas continuava em silêncio, mas eu conseguia sentir todo seu repúdio, não era difícil de respirar e sentir o desdém dele.

***

Eram quase duas da manhã quando levantei da cama com o máximo de cuidado que poderia ter, meu pé já não doía mais, estava perfeitamente enfaixado, Roberto foi um enfermeiro dedicado, e por ter chegado cansado de uma reunião não demorou a dormir. Coloquei um blusão confortável e fui andando pela casa escura, tudo estava tão calmo, mal parecia que uma tempestade me esperaria do outro lado da porta.
Andei com certa dificuldade pelo chão de madeira frio, ouvia apenas o silvo do vento quando pisei no ultimo degrau da escada, as cortinas balançavam com calma e pelas vidraças da porta entrava uma luz prateada da lua que eu conseguia ver ao longe, pequena entre poucas nuvens, mesmo assim o chão estava iluminado, a areia branca da praia funcionava como holofotes um tanto incômodos em meus olhos. Mesmo assim eu fui, segurei a maçaneta. Respirei uma, duas, três vezes, não tive forças para abrir a porta, afinal, longas foram as noites que meus dias giravam ao seu redor, Taylor Swift não saia de minha cabeça, era como um triste fundo musical, Amanda era meu “Dear John”, cara a cara, ali, atrás daquela porta, quando eu achei que nunca mais a veria... Abri a porta e fui encarar: a ela e a mim, mas é claro que bem no fundo eu apenas rezava para que o chão não desmoronasse sob meus pés. De novo.
Eu tentava não pensar, antes de a ver todo aquele flash back fixado em minha mente, indo e voltando, indo e voltando.
“Quem é você?” — ela perguntou, mas eu não sei, eu realmente não sei. Só sei que era amor. Chega de máscaras e muros, era amor! Afinal, Quem eu quero enganar? Era amor, ao menos da minha parte, afinal, nunca temos como ter certeza se isso é reciproco.
E ao abrir a porta, eu simplesmente tive a certeza que era amor, mas não, nunca foi reciproco.
— Nossa, você foi pontual! — disse ela — ainda bem, tenho muitas coisas para conversar com você. — disse ela me olhando dos pés a cabeça.
— O que você quer? — disse eu me segurando enquanto tremia, de medo e de mim.
— Primeiro, — disse ela chegando rápida e astutamente bem próximo a mim — primeiro, deixe-me sentir seu cheiro Eu senti tanto sua falta.
Sabe o que eu disse sobre pequenas ações que acarretam em grandes reações?
— Seu cheiro... Como eu poderia esquecer? — disse ela acariciando meus cabelos e me puxando pela cintura — Como eu poderia não desejar?
Pequenas ações, grandes reações.
— Eu sinto sua falta! — ela sussurrou ao meu ouvido antes de me beijar.
E foi exatamente nesse instante que aquela porra toda voltou a minha mente, como num filme em preto e branco, simplesmente tudo começou novamente dentro de mim, no tempo exato de um beijo, que eu mal tinha ideia do quanto duraria.




segunda-feira, 22 de julho de 2013

Eu acho que sempre soube que era uma escritora. Desde criança. Quer dizer, quando somos crianças a gente mal sabe que sabe das coisas, temos apenas os sinais, e eu, ah! Eu tinha todos! Todos os mundos em minha mente, cada personagem com suas vidas e mundos interiores, os mundos, cidades, castelos, batalhas, romances... Cada potencialidade encontrada em cada vida de cada ser que eu inventava e soprava as narinas... Porque, quando escrevemos, nós também somos deuses, mas, daí achamos que podemos ter controle sobre nossas criaturas, mas não! Eu escrevo um começo, o meio e o fim são deles.
Desde que eu era criança, e até hoje, me encanto com essas criaturas que conduzem seus próprios destinos, suas vidas ditadas em páginas, todas as vidas que passam pela minha caneta, e de alguma forma, ficam pra sempre dentro de mim. 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

— Se eu fosse você tomaria cuidado comigo.
— Porque?
— Porque eu escrevo.
— E o que tem de perigoso nisso?
— Eu escrevo e eu estou apaixonada por você.

Só pra constar


Uma das coisas mais lindas que vi, nesses meus últimos cinquenta e cinto mil anos foi o sorriso dela, e os olhos dela perdidos tentando fixar o olhar em algum ponto no chão, para não me encarar, me pedindo pra ficar.
Como negar que o mundo parou? Não havia alternativas; era ali que eu queria ficar, mesmo tendo outro lugar para ir, e indo para outro lugar, sem dúvida alguma: foi ali que meu coração ficou, eu percebi isso justamente quando nosso sorriso se encontrou, não, não houve qualquer dúvida! Ali: bem ali, uma história de amor começou.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Teimosia, de noite e de dia

Teimosia é uma ferida vadia que teima em queimar,
Como brasa tardia na boca de quem sisma em sismar;

Teimosia é uma menina mocinha que insiste em insistir,
É passarinho que bate a asa até voar;

Teimosia é o olho do filho que pede sem ninguém para dar,
É mãe que diz não mesmo podendo dar;

Teimosia é querer ficar na cama e levantar pra trabalhar,
É fazer café e ter preguiça de coar;

Teimosia é achar que o mundo não tem mais jeito,
E mesmo assim acreditar;

Teimosia insistir no impossível até possível ser,
É a persistência que move a mim e a você.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Quantos olhos temos?


Há quem diga que os olhos são a porta da alma, de fato, são um par sincero, puro discreto, fujão, voraz, faminto, raivoso... Há tantas aparições, milhares de significados e leituras para um único par... Nós vemos dois olhos, mas em verdade, quantos são? Quantas portas existem neles e nos levam até a alma? Será um labirinto? Há de verdade um lugar para se chegar? E ao invadir a alma alheia, o que fazer além de deixar os olhos que veem e invadem fluir por todos os espaços do universo?



A felicidade é o olhar, é o sentir



A felicidade pode ser captada por uma lente voraz, mas não é ter uma câmera na mão,
É mais do que isso: é ter um milhão de fotos que te remetem a tanta coisa boa!
Felicidade não é ter uma câmera, mas sim coisas boas para fotografar, para lembrar, para amar,
Abrir um sorriso novo toda vez que voltar a olhar, e sentir cada dia mais vontade de fixar o hoje em imagens,
Eternizar para sempre ver e reviver, e a cada dia ter razões para mirar e fotografar...
A felicidade, é o olhar, e é mais do que ver: é sentir o olhar.