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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O fim e o começo


O vento soprava doce, trazendo o aroma de rosas, algumas delas dançavam no céu, aquele dia cinza que tinha tudo para ser azul, mas teimava em “chiaescurecer”.
“Poderia ser eu ali” – eu pensei sorrindo, com um desconforto suave no peito – mas... Não sou eu.
Então eu entrei, em passos largos na igreja, todos olharam, mas, ao me ver, logo desviaram o olhar para algo mais interessante. Uma conversa que ficou pela metade, aquele vestido que deveria ser de outra cor, que está apertado, os cochichos e gente dizendo que iria direto pra festa, os fotógrafos testando a iluminação, daminhas correndo, as mães correndo atrás, “o penteado, o penteado!”, os amigos de sempre a rirem, radiantes nesse dia, a mãe dele tão bonita, lutando para não chorar, a mãe dela prestando atenção em todos os detalhes. Foram poucos largos e arrastados passos que precisei dar, sentei por ali mesmo, ultima fila, discreta. “Mas... que dor mais doce!”, foi meu pensamento.
Quanta coisa passa na nossa mente em tão pouco tempo, quantos risos, beijos, discussões, brigas, cenas de novela, videoclipes de amor, filmes e mais filmes, perfumes ao vento, chegadas noturnas depois do horário, era tudo tão explosivo e cheio de paixão. Declarações, mordidas, lágrimas, beijos, beijos, beijos, provocações, orgasmos múltiplos, horas e horas fazendo amor, pseudônimos, viagens escondidas, todos os hotéis da cidade, primeiras vezes, macarrão com vinho branco, hipnose, mãos dadas, carinhos, cartas e telegramas, telefonemas e SMS, você e eu.
Incrível como nesses momentos – inoportunos – conseguimos lembrar de tanta coisa que fazemos tudo e mais um pouco para esquecer – mas, a verdade é que devo deixar essas lembranças para trás. Hoje todos vão saber que o meu garotinho se casou. Não é comigo, mas que seja linda, linda como um dia foi a nossa.
A música começa a tocar, agora é oficial! Todos se levantam, algumas garotas já preparam as lágrimas, outros distribuem saquinhos de arroz, ela vem em passos curtos, largos, ela sorri, ela sorri andando, tão radiante! Linda, serena... Sempre imaginei que esse seria o tipo de garota perfeita para ele.
Ele.
Estava ali, em cima do altar, olhei para tudo, para todas as direções, menos aquela, levantei a face aos poucos, ele estava mais bonito do que nunca, tão elegante naquele terno, tão mais maduro, cabelo arrumado, mãos tremulas... E ele brilhava tanto quanto ela, “e por você perdidamente apaixonado”. Eu fui a primeira a chorar, não soube exatamente se de tristeza ou felicidade, não sei explicar o que foi aquele momento... Senti um soco profundo no estomago, um vazio estranho. Mas logo me recompus, era exatamente isso que ele precisava, que ele sempre quis, no nosso tempo eu era muito jovem para escolher, mas  o “nosso tempo” passou, e ele me escolheu para ser testemunha dessa história, então, eu engoli o choro, porque eu sabia que ele merecia uma vida toda de paz e amor.
Então, eu me senti surpreendentemente feliz, feliz por ele, feliz por ele estar feliz. Ali foi que eu entendi o que realmente era amar. E ela disse sim, ele disse sim. E eu o amei, ainda mais, e mais do que sempre, e esse foi o fim.

E o começo.

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