O vento
soprava doce, trazendo o aroma de rosas, algumas delas dançavam no céu, aquele
dia cinza que tinha tudo para ser azul, mas teimava em “chiaescurecer”.
“Poderia ser
eu ali” – eu pensei sorrindo, com um desconforto suave no peito – mas... Não
sou eu.
Então eu
entrei, em passos largos na igreja, todos olharam, mas, ao me ver, logo
desviaram o olhar para algo mais interessante. Uma conversa que ficou pela
metade, aquele vestido que deveria ser de outra cor, que está apertado, os cochichos
e gente dizendo que iria direto pra festa, os fotógrafos testando a iluminação,
daminhas correndo, as mães correndo atrás, “o penteado, o penteado!”, os amigos
de sempre a rirem, radiantes nesse dia, a mãe dele tão bonita, lutando para não
chorar, a mãe dela prestando atenção em todos os detalhes. Foram poucos largos
e arrastados passos que precisei dar, sentei por ali mesmo, ultima fila,
discreta. “Mas... que dor mais doce!”, foi meu pensamento.
Quanta coisa
passa na nossa mente em tão pouco tempo, quantos risos, beijos, discussões,
brigas, cenas de novela, videoclipes de amor, filmes e mais filmes, perfumes ao
vento, chegadas noturnas depois do horário, era tudo tão explosivo e cheio de
paixão. Declarações, mordidas, lágrimas, beijos, beijos, beijos, provocações,
orgasmos múltiplos, horas e horas fazendo amor, pseudônimos, viagens
escondidas, todos os hotéis da cidade, primeiras vezes, macarrão com vinho
branco, hipnose, mãos dadas, carinhos, cartas e telegramas, telefonemas e SMS,
você e eu.
Incrível como
nesses momentos – inoportunos – conseguimos lembrar de tanta coisa que fazemos
tudo e mais um pouco para esquecer – mas, a verdade é que devo deixar essas
lembranças para trás. Hoje todos vão saber que o meu garotinho se casou. Não é
comigo, mas que seja linda, linda como um dia foi a nossa.
A música
começa a tocar, agora é oficial! Todos se levantam, algumas garotas já preparam
as lágrimas, outros distribuem saquinhos de arroz, ela vem em passos curtos,
largos, ela sorri, ela sorri andando, tão radiante! Linda, serena... Sempre
imaginei que esse seria o tipo de garota perfeita para ele.
Ele.
Estava ali, em
cima do altar, olhei para tudo, para todas as direções, menos aquela, levantei
a face aos poucos, ele estava mais bonito do que nunca, tão elegante naquele
terno, tão mais maduro, cabelo arrumado, mãos tremulas... E ele brilhava tanto
quanto ela, “e por você perdidamente apaixonado”. Eu fui a primeira a chorar,
não soube exatamente se de tristeza ou felicidade, não sei explicar o que foi
aquele momento... Senti um soco profundo no estomago, um vazio estranho. Mas
logo me recompus, era exatamente isso que ele precisava, que ele sempre quis,
no nosso tempo eu era muito jovem para escolher, mas o “nosso tempo” passou, e ele me escolheu
para ser testemunha dessa história, então, eu engoli o choro, porque eu sabia
que ele merecia uma vida toda de paz e amor.
Então, eu me
senti surpreendentemente feliz, feliz por ele, feliz por ele estar feliz. Ali
foi que eu entendi o que realmente era amar. E ela disse sim, ele disse sim. E
eu o amei, ainda mais, e mais do que sempre, e esse foi o fim.
E o começo.
Parece um filme de tão lindo.
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