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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Alice em Duas partes: Manhã naquele quarto, noite na varanda


Era como um sonho ver ele ali, tão perto num sono tão profundo que mal poderia sentir minha presença, meio que por instinto fui até ele e me aproximei, tão próximo de sua boca, sentindo sua respiração, seu hálito doce mesmo àquela hora da manhã, mas ele acordou.
—  O que você está fazendo aqui, vadia? — foi o que ele disse, então, todo o encantamento acabou, me olhava com repúdio, então, não demorei muito para recordar o porque eu tinha vindo aqui.
— Eu estava apenas tentando te acordar, seu grosso, porque eu quero conversar com você, deixar algumas coisas bem claras e quis falar em particular.
— Então, já que invadiu meu quarto e me acordou, fale logo o que você quer. — disse ele sentando na cama e cruzando os braços, ainda com o ar defensivo, a fraca luz que vinha pela janela batia em seus ombros com sutileza, contornando seus braços e sumindo perto de seu pescoço, deixando seu rosto encoberto em sombras.
— Bem, eu sei que não tivemos o melhor começo, e eu até entendo o fato de você não gostar de mim, mas você sabe que eu estou aqui e não tenho a menor pretensão de sair, então, vamos ter que nos aguentar, e é melhor que seja da forma mais amigável possível.
— Eu não tenho que compactuar com esse tipo de coisa, minha mãe ama meu pai, você já parou para pensar nisso alguma vez?
— Mas, seu pai não ama sua mãe, — as palavras simplesmente saíam de minha boca — vamos ser honestos, você sabe que eu não sou a primeira amante dele, e se eu sair da vida dele... Não serei a ultima, cara, eu não incomodo ninguém, nem faço inferno, eu estou bem do jeito que estou vivendo, nunca quis prejudicar sua mãe, mas não vou me prejudicar também, além do mais, ela deve conhecer melhor do que eu o marido que tem em casa.
— Não, ela não conhece. — disse ele em meio a um sorriso irônico — nem eu conhecia, mas conheço muito bem garotas como você, e quer saber? Vocês acabam sozinhas porque ninguém respeita vadias.
— E você é o cara mais estupido que já vi na vida, e olha que eu já vi muitos. — disse eu com muita raiva, eu tinha chegado ali em missão de paz!
— Não duvido que tenham sido muitos mesmo, agora você pode sair de meu quarto? — disse ele levantando-se e abrindo a porta do quarto.
— Olha garoto, eu não terminei de falar. — disse eu levantando e bufando de ódio.
— Não tenho que ouvir seus latidos, vá enquanto eu não perco minha paciência.
— Ah, e o que você vai fazer? Me bater? — Cheguei mais perto dele, bem perto na verdade.
— Eu não... — disse ele se aproximando ainda mais de mim, abriu um lindo sorriso irônico — os quais ele parecia ser mestre, e falou: não bato em animais.
Mas eu sim. Enchi minha mão com toda a força que tinha adicionado com toda a raiva que estava sentindo e lhe dei um tapão estrondoso na cara.
Por impulso, ele ergueu a mão no ar para me devolver o tapa, mas algo o segurou.
— Olha garota — disse ele abaixando a mão e respirando uma, duas, três, quatro vezes — se você quer arrumar barraco escolheu o cara errado, só sai do meu caminho, eu odeio garotas como você, e sei bem como lidar com seu tipo, estive a vida toda rodeado delas, não vou cair na sua.
— O que porra você quer dizer com isso? — disse eu confusa e com o coração acelerado e me sentindo humilhada, a quanto tempo eu não me sentia assim, meu Deus?
— Aproveitadoras, garotas querendo tirar proveito de tudo que pode, meu pai não é o bastante pra você tem que vir pro meu quarto? O que você estava procurando, você não vai achar.
— Eu vim aqui pra estabelecer paz, não quero nada com um ridículo como você, que aliais é tão estupido que deve ser sozinho na vida.
— Eu tenho alguém, uma garota que me enxerga do jeito que eu sou e não o que eu tenho, uma mulher de verdade, coisa que você nunca vai ser na vida, agora sai daqui, apenas saia.
O que mais poderia fazer? Saí. Sai e passei o dia de mal humor, despistei Roberto dizendo que estava com enxaqueca e ele acreditou, não falei mais com Felipe desde a manhã, e já era quase noite, eu tinha passado o dia inteiro na praia olhando o mar e sentindo um aperto estranho no peito, logo concluí que era raiva, e não conseguia parar de pensar em Felipe e aquilo estava me dando nos nervos, queria voltar para meu quarto, mas me amedrontava a ideia de cruzar com ele naquela casa. Mas já estava ficando frio e eu estava ficando com sede, tomei coragem de voltar para a casa e encarar aquele puto.
Mal sabia eu o que estava esperando lá, antes tivesse entrado no mar e respirado água até me afogar.
Ao chegar dentro de casa, entrei de fininho sem fazer muito barulho, dava passos leves no piso de madeira, peguei um copo de água bem gelado e resolvi subir para meu quarto, deveria estar passando algo de interessante na TV, Roberto ainda não tinha voltado de sua reunião e não havia nem sinal de Felipe. Subi as escadas tomando um longo gole de água, já estava quase na porta de meu quarto, mas ouvi sons de risadas conhecidas, uma era de Felipe, isso eu consegui identificar, mas a outra... Eu sabia que era de alguém conhecido, mas não sabia exatamente quem, era uma voz feminina que me fez pulsar automaticamente, mas quem?
Andei com a ponta de meus pés e fui até a varanda da casa, a porta estava entre aberta, era para ser só uma espiadinha...

Parecia uma daquelas cenas de filme da Disney, sabe? Felipe e uma garota de cabelos longos, escuros e ondulados pareciam os protagonistas, não conseguia ver seu rosto que estava bem apoiado no peito dele. Os dois estavam rindo e sorrindo rodando na varanda com aquela luz de fim de tarde misturada com a da lâmpada amarela sobre eles. Ele sussurrava alguma coisa em seu ouvido e ela só ria e seu riso me incomodava cada vez mais.Sem qualquer aviso eles pararam e ela, ainda com seu cabelo sobre o rosto segurou o dele com as duas mãos. Como eu senti inveja dela! Então, ele afastou o cabelo dela e sorrio como se estivesse olhando para a coisa mais preciosa do mundo, eles iriam se beijar e eu não conseguia parar de olhar para ele, mas consegui desviar meus olhos para ver quem diabos era aquela garota... E eu simplesmente não consegui acreditar, repentinamente perdi as forças, estava quase desmaiando quando o copo de água gelado teve que cair em meu pé para eu voltar para a terra, eu não podia acreditar.
 Era ela.
— O que diabos você está fazendo aqui? — disse eu tremendo dos pés, que por sinal estavam sangrando, à cabeça. — Pode me explicar?
Era ela.
— Vocês... Se conhecem? — disse Felipe totalmente confuso olhando para seu rosto e para o meu.
Era ela.
— Quem é você? — foi a única coisa que saiu de sua boca naquele momento, mas não havia qualquer dúvida. Era ela.

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