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quinta-feira, 1 de maio de 2014

Nova vida, novo país: quatro meses


Então, há quatro meses atrás, mais ou menos neste mesmo horário eu estava subindo em um avião para experimentar um pouco de uma vida nova, um país novo, uma outra América tão distante de onde eu nasci e cresci, longe de minha família, longe de meus amigos, de minha gata, do meu quarto, longe de tudo que sempre me pertenceu, o que eu encontraria eu não sabia, haviam poucas informações sobre Mérida, a cidade que eu iria me apaixonar em tão pouco tempo, havia incertezas e uma vontade incrível de recomeçar, de descobrir o mundo sozinha, porque eu sabia que a partir do momento que eu subisse naquele avião seria tudo por minha conta e que eu nunca voltaria para casa, não como eu era, não, outra Izis estava pra nascer, como um rio que nunca é o mesmo eu fui, fui e fluí.
Não sou dessas que escreve o tempo todo sobre minhas experiências, prefiro vivê-las, guardá-las, fotografá-las, me apaixonar pelas cores do vento que por mais que eu queira descrever, não posso.
Não posso dizer pra vocês que o céu noturno daqui é mais claro e azul, quase roxo, mas você pode imaginar, mas talvez não possa imaginar a cor do por-do-sol sem fim que começa às seis da noite, e como esse lindo sol se põe dentro do mar, a água aqui é um pouco mais fria do que o mar que eu nasci e cresci amando, a cor da água do Caribe me lembra muito Maceió, e a areia de Tulum me faz sentir falta da Praia do Francês. São tantas semelhanças e diferenças que meus olhos captaram, que viram memória a cada segundo que passa, que eu esqueço e lembro a medida que respiro o ar que quando me dou conta já saiu do meu nariz. "Tempo, por favor, não passe tão rápido!" é uma prece que eu faço sem sucesso todos os dias, porque eu estou encantada com tudo que estou vivendo, com as pessoas que venho conhecido, com as cores, os sabores que ando tocando e aprendendo a amar, com o respeito que estou tendo todos os dias e a simpatia que ando tendo e recebendo de tantos desconhecidos que vão se convertendo em amigos, do amor que não procurei e encontrei e que faz esses meus dias ainda mais coloridos e poéticos de uma forma só minha de ser e viver.
Não demorou pra me adaptar a esse ritmo frenético de vida, as festas, reuniões, viagens, como foi delicioso e apavorantemente lindo descobrir o que é um cenote e explorar vários deles, entrar em grutas que eu acharia que nunca conseguiria passar, ter minhas próprias rotas selvagens, conhecer Chichen Itza uma das novas maravilhas do mundo imponente, energética e hipnotizante, sentir frio até a boca rachar na Cidade do México, e lá conhecer a casa de Frida Kahlo e pela primeira vez na vida começar a chorar diante de uma obra de arte e de uma história tão fascinante, patinar no gelo sem medo de cair, conhecer gente do mundo todo, de lugares que eu nunca pensei que poderia ter contato e veja só, amigos! Viver com três mexicanos encantadores que em pouco tempo se tornaram amigos extremamente divertidos e importantes, como também duas brasileiras louquinhas e junto deles formar uma nova família num novo passo de nossa vida, essa fase tão linda que nós três estamos compartindo, além das três vizinhas que fazem parte dessa família bonita que fala línguas diferentes e mas que nunca tiveram problema pra entender o quão forte e bonita nossa amizade vem sendo! Conheci até Dulce María! Vi flamingos e nadei em um mar Morto, conheci o carnaval mais raro do mundo e ainda participei dele, com direito a trajes típicos, dança ritualística e tudo! Me deliciar com o simples prazer de ir para o lindo centro de Mérida e sentar ou caminhar vendo rostos de todo o mundo e ficar brincando comigo mesma imaginando de onde são e o que estão fazendo aqui, quais são seus sonhos, motivações, ou simplesmente qual idioma falam. 
Dentre tantas mil experiencias que por mais que eu tente me lembrar não cabem em um único texto, mas cabe no olhar.
Ver o céu estrelado sem lua e sem qualquer outra interferência de luz, ver cada estrela cadente caindo como se fossem em mim, são tantas memórias bonitas que fazem parte desse meu efêmero presente, e eu só consigo sentir que é justamente isso: um presente, um presente que eu e a vida nos demos, e eu me sinto tão abençoada nesses momentos.
E você pode me perguntar, e você não sente falta de casa? Eu posso simplesmente responder: não! Eu sinto falta de minha família e amigos, porque casa é só um imóvel e lar é onde vive o coração da gente, e hoje eu posso dizer que meu lar está dividido entre Brasil e México, e eu jamais serei inteira novamente, e eu não quero ser!
Santa felicidade, seja bem vinda!
Eu sou uma estrangeira longe de minha terra natal e que sente cada dia mais que tem o mundo como mátria e o amor como religião, e eu quero conhecer todo esse mundo que é meu, e sinto que todo o mundo me ama, e quero, de verdade ter a sabedoria de amar ele de volta, como alguém muito sábio disse um dia num bom filme, e é isso que quero.
Agora minha vida é doce como canela, e era exatamente isso que eu queria, e que continue sendo fluído e cada vez mais bonito, que seja meu, que meu norte nunca tenha um direcionamento certo e que meu caminho seja cada vez mais crescer, aprender e evoluir.

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