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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Alice em 2 partes: Primeira: Pai e Filho

Conheci Roberto no Outubro passado, e Deus, não há no mundo ninguém melhor que ele, nunca, nunca conheci um homem tão bom para mim, que me tratasse tão bem, ele definitivamente me salvou daquela viagem fodida que tinha acabado com boa parte do que ainda tinha em mim, da minha inocência .. Mas não vou falar sobre isso aqui... Não! Estou aqui para falar que Roberto, como um anjo caído do céu entrou em minha vida.
Ele e seus cabelos grisalhos repicadinhos e bem baixos, aquele sorriso perfeito, era muito fácil querer estar com ele, um homem tão generoso, sempre disposto a abrir sua carteira, como o fez com seu coração, viagens, cursos, roupas, eu não me constrangia  era natural, ele queria uma mulher à sua altura, que troca-se um pouco mais do que vinte palavras com seus amigos, e seus amigos me comiam com os olhos, embora todos respeitassem o meu Roberto, eles diziam "Rob, ela poderia ser sua filha!" e ele respondia "mas, olhe para ela, ela é!", então ele me colocava no colo e acariciava minhas coxas, todos riam... Menos eu. Roberto mal sabia o quanto ele parecia com meu pai nesse aspecto... Mas, essa é outra lembrança que eu fazia questão de esquecer... 
Afinal, o velho já tinha batido as botas a muitos anos, em brigas de bares nem sempre os envolvidos voltam para casa... Vivos! Mas, vamos esquecer disso, okay? Roberto, ah, Roberto, definitivamente eu estava confortável com ele, e ele se divertia muito comigo também, ficou surpreso com a quantidade de coisas que eu já sabia, mesmo aos dezessete, levávamos uma boa vida, naturalmente Roberto era casado e eu morava em um flat muito bem localizado no centro da cidade, ele me visitava regularmente, mas morava com a esposa, e eu com tudo o que uma mulher possa querer ter na vida, e o melhor: a minha solidão, poucas pessoas a apreciavam como eu.
Luxo, conforto, um homem que lambia o chão que eu pisava... O que mais eu iria querer?
Ah, mulheres! Nunca satisfeitas, claro que eu queria mais alguma coisa: Felipe. 
Conheci Felipe porque ele estava onde não deveria estar, ou eu e Roberto não deveríamos estar, ou eu estava exatamente onde iria querer estar, só não sabia ainda. Roberto e eu costumávamos passar as manhãs de sábado numa praia privada ao leste da capital, local impecável, uma casa de madeira luxuosa, um cenário paradisíaco, não havia uma única nuvem no céu, os pássaros voavam ao longe e o único som que eu ouvia era o das ondas quebrando na praia. Um paraíso, mas que no inicio me pareceu mais um inferno.
Estava recebendo uma massagem de Roberto quando escuto a voz de um homem esbravejando um "o que significa isso?", então, Roberto soltou minhas costas, levantou-se e respondeu gaguejando "e-eu, eu posso explicar, filho".
Filho. Roberto nunca tinha mencionado que tinha um filho! Levantei a cabeça para ver quem era aquele homem tão irritado e tive que segurar meu queixo para ele não ir ao chão. 
Felipe não parecia em nada com o pai, embora os dois tivessem exatamente o mesmo ar charmoso, só nisso eles pareciam, Felipe tinha a pele bem mais clara, cabelos bem pretos e cheios, meio ondulados, embora curtos como os do pai, um liso bagunçado que dava vontade de puxar, e puxar com força, seus olhos eram tão azuis quanto as águas daquele mar, sentia minha pele sendo arranhada levemente só de ver sua barba fininha, falhada, braços relativamente fortes, sua tatuagem que cobria completamente seu braço direito e aquela boca rosada que proferia mais palavras do que eu poderia acompanhar naquele momento, e nenhuma delas era agradável, eu tinha certeza.
Roberto puxou Felipe para um canto para conversar a parte e eu coloquei de volta a parte de cima do meu biquíni, vesti minha blusa, eu estava me preparando para a guerra, eu finalmente tinha a vida que eu sempre quis, não seria esse moleque - por mais gostoso que fosse- que iria acabar com minha paz, a, não mesmo! 
Eu estava pronta para usar qualquer argumento para convencê-lo, quando os dois voltaram, muito mais calmos, eu esperava sentada ainda na praia, pensando no que falar e simplesmente não tendo sucesso, mas, para a minha surpresa eles voltam calmos, bem calmos por sinal, Roberto dá um sorriso tenso e começa:
— Conversei com ele, está tudo resolvido, aliais, Alice, este é Felipe, meu único filho, ele estava concluindo seus estudos fora do país, ele não vai falar nada para Marlene, o fiz entender que essas coisas são naturais na vida de um homem, um dia ele também passará por isso. —  completa dando dois tapinhas nas costas do filho que não me olhava com qualquer cordialidade.
— Prazer em conhecê-la, Alice, como meu pai disse, não contarei nada para mamãe.
Ele me fuzilava com os olhos, e eu não o culpo, embora eu tinha consciência que tinha que fazer algo, o que fosse, as coisas não ficariam assim.
A noite chegou arrastada, oras, não me sentia confortável com aquilo tudo, nem Roberto, mas ele logo adormeceu e eu levantei com as pontas do pé, atravessei aquele quarto imenso e fechei aquela porta de madeira pesada com a maior sutileza que consegui e fui caminhando, fui vasculhando de quarto em quarto até encontrá-lo, quase esqueci o porque tinha ido até ali, era um anjo dormindo, ou, o mais parecido que eu iria chegar a ver de um anjo na vida. 
Fechei a porta cuidadosamente e fiquei ali, parada encostada a porta pensando no que fazer, ouvindo o barulho do mar e sua respiração profunda, não resisti muito tempo e fui em sua direção, precisava tocar aquele rosto, não sabia onde estava a minha cabeça, e nem ao menos queria saber, mas, quando cheguei a centímetros de seu rosto ele acorda e segura minha mão com força.
— O que você está fazendo aqui, vadia?

CONTINUA.

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