A sensação é clara, como o ar do campo entrando no pulmão;
Ela respira em plena noite, como quem respira as seis da
manha;
O ar é leve, mais leve que seu estado de espírito;
Ela sente frio por dentro, e não é aquele tipo de frio que
se resolve tomando conhaque;
No fundo ela cansou de andar pelas ruas sem destino;
Ela só dirige seus pés seu rumo e já faz algum tempo, mas não a
condene;
Ela vem tentando o máximo que pode, ela até quer ser uma
boca garota;
Mas ela não sente, não sente mais nada, nem vontade de ir,
nem vontade de ficar;
Oras, o que ela realmente quer? Qual o sentido dessa
caminhada?
Ah, como era bom descobrir!
Mas ela realmente não sabe. Não, não sabe.
Mas sabe se comparar as pegadas deixadas na areia que o mar
apaga;
As vezes gentilmente como um beijo, as vezes com a violência
de um atropelamento;
Mas a areia continua ali, não muda, não acaba, ela já não
sente mais nada;
Ela sente o salgado do mar e o frio do vento, como quem
respira pela noite;
Como quem deixa o mar guiar a alma para algum lugar
que essas palavras,
Para que essas palavras possam fazer algum sentido.
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