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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Noite - Parte I




O céu estava completamente estrelado, límpido, belo, o que era de se esperar, não havia nada que não fosse estrada e um horizonte sendo tomado por estrelas que iluminavam todo o caminho, uma lua enorme e prateada que deixava tudo ao redor parecer mais bonito, até as árvores que a muito tempo me faziam tremer de medo, crianças sempre imaginam dragões onde eles não estão.
Mas, dessa vez era diferente, eu já era bem grandinha, e não estava sozinha, estava com ela, ela? Bem, ela sorria com dominação enquanto dirigia para algum lugar que eu mal sabia onde era, e talvez nem ela. 
A música estava alta, quase tapava meus ouvidos, mas tudo bem, não estávamos conversando, não estávamos brigadas, mas queríamos, cada uma a seu modo aproveitar aquele momento de liberdade, afinal, quem sabe o dia de amanhã? Então, foi desse jeito que saímos daquele bar, com o propósito de viver o hoje, de dirigir a cem por hora, sem nos importar com placas ou sinais, sem nos importar com o fato de já termos bebido o suficiente para apagar a qualquer momento, ou como voltaríamos, voltar para onde?
Ela parecia saber muito bem o que estava fazendo, acho que ela era mais da estrada do que seu ar de garota séria da cidade poderia demonstrar, mas, o que eu sabia dela? É aquele tipo de pessoa que você conhece por anos, mas ao mesmo tempo, não faz ideia de quem seja, mas eu sabia que eu a queria, e ela a mim.
Sem nenhum aviso ela jogou o carro para um descampado que não tinha cerca, o que chegou a me assustar por alguns instantes, mas logo ela estacionou, abriu a porta e levantou, esticou os braços e se espreguiçou, olhou para trás e só disse "não vai descer também?" Seu ar estava totalmente descontraído, o álcool faz milagres com algumas pessoas.
Mesmo estando muito tonta eu abri a porta e cambaleei em sua direção, fiquei a seu lado, quieta, sozinha olhando aquela imensidão de estrelas que pareciam me engolir, sentei no capô do carro, quando me dei conta já estava deitada, perdi ela de vista, perdi o céu de vista, fechei os olhos e senti aquela brisa gélida da noite percorrer todo meu corpo, e logo depois minha blusa sendo levantada e alguma coisa parecida com areia caindo suavemente em meu umbigo, não era areia, era pó.

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