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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Canção do adeus


Não era por não sentir, acredite, que sentimentos não eram o bastante para descrever, mas não sentia necessidade de demonstrar, não era fraqueza também, era apenas, algo que não se pode explicar com palavras, mas sim com o sentir.

Trancada em um quarto com um cachorro barulhento e um gato dorminhoco ela mostrava bem mais a si mesma do que poderia mostrar ao mundo, e que se dane o mundo, ele não sabe nada de mim. Lá fora rostos conhecidos, mas nenhum rosto amigos, todos os rostos amigos vieram mais cedo, estiveram quando foi preciso estar, e até se acha melhor assim, demonstrar a dor nunca foi algo que ela achara bonito, o que era bonito era a lembrança do homem que ela mais admirou, e das lembranças tão lindas daquele sorriso, que ria de tudo, que ria do mundo, ou da cabeça dura que certamente ela herdara, dos dons artísticos que eram só dela, mas que era dele, e ela sozinha no escuro ouvindo aquela voz que a acalma percebe o quanto tem dele dentro dela, e a dor já não é tão sofrida, ela descobre que não é uma canção do adeus, e sim uma canção do até algum dia, é a canção que um dia ela ainda vai tocar, nenhum dos dois tinham jeito com instrumentos, mas ambos se sentiam poderosos com um na mão, ambos conseguiam fazer qualquer coisa com as mãos, discos voadores e até auto-retratos perfeitos, bem, ele conseguia. Nunca nunca  me ensinado a fazer bombas, o que eu sempre achei fantástico, ou de todas aquelas histórias pacientemente contadas e das mesmas preocupações de sempre, a lucidez mesmo com a idade tão avançada, existe algo que nunca se soube, era o herói daquela menininha e ela apenas se fascinava. Se fascinava e ninguém via.

Mas, quem precisava ver?

A saudade a incomodava mais do que o latido do cão patético e emocionalmente dependente das donas, porque ela sabia que esse é o tipo de saudade que não se pode evitar, e logo serão 15:00 horas e teremos que partir, mas não para um adeus, e sim para um até logo. Até logo ao melhor avô do mundo, até logo para você, que mesmo sem saber, sempre será o meu herói.

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