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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Uma noite em Paris




Chego da rua meio cambaleante, um tanto quanto bêbada para falar a verdade. O hotel onde estou hospedada é um lixo, mas até as pulgas falam francês. Ora, o que mais eu poderia esperar? É minha primeira noite em Paris! Recosto a cabeça na parede e fecho os olhos, o mundo não para de girar e estou completamente atordoada. Não saberia dizer ao certo se é por causa do que bebi, ou do que cheirei, talvez seja do que não comi, mas não me sinto mal, apenas tonta. Minha alma partilha da escuridão, podridão e lascividade do lugar. Ouço gritos e gemidos de alguém, acho que algum casal está fazendo o que eu queria fazer nesse exato momento, deve ser no quarto ao lado. Seria muita ingenuidade minha achar que as paredes daquela espelunca seriam suficientemente grossas para inibir certos barulhos.
Meu cérebro volta a funcionar lentamente, ainda acho que devia parar com as drogas. Relembro tudo o que aprontei nessa primeira noite. Certamente muitas coisas que jamais faria no meu reino “Tão, Tão Distante”, lá onde sinto-me obrigada a ser princesa, lá onde não posso ser borralheira nem mesmo de brincadeira. Mas bem, aqui sou uma completa desconhecida, posso fazer o que quiser e com quem quiser. Serei toda de Paris e Paris será minha, uma troca mais do que justa. Comecei o dia viajando, horas e horas dentro daquele avião, não via a hora de estar na “Cidade Luz”. Já havia estado em Paris tantas vezes, em sonhos, em revistas, em sites de busca na internet, nos filmes... E depois de tanto tempo querendo estar aqui, ansiando por essas ruas e belos cafés, o que eu mais queria era ir a uma grande roda gigante, alguma que me possibilitasse uma vista panorâmica da cidade. Quero gravar essa cidade em minhas memórias de forma permanente e minha, uma memória tão minha que jamais pensem em escrever sobre ela, ou transformá-la em filme. Será algo entre Paris e eu. Porém hoje, bem... Hoje quis ir além, não queria agir como uma turista qualquer e embora eu queira, imensamente, visitar a Torre Eiffel, ir a um café chique e ler um livro enquanto tomo algo gostoso e que esquente meu corpo, hoje eu quis ser francesa. É isso mesmo, ser francesa. Esquecer tudo antes de hoje e me sentir uma com a cidade, uma com o povo, uma francesa da gema. E foi o que fiz. Flashes da noite bailam em minha memória, meus olhos ainda estão entorpecidos pelas substâncias que ingeri a noite toda. Mas não me arrependo, tenho até uma boina e um cachecol tipicamente franceses comigo, tudo para jamais me esquecer de que uma princesa também pode se divertir, sem medos, sem receios...
Ops! Só agora me dei conta de que estou sem um pé da minha bota... Olho ao redor e nada encontro. Procuro nos flashes da minha mente, por onde fui, com quem falei, se havia alguma forma de ter deixado a bota por um dos tantos lugares que fui hoje. De repente veio um flash mais vívido, mais nítido. Vejo olhos escuros, um sorriso lindo, encantador. Lábios de um vermelho torturante, pediam beijos. Cabelos longos e negros. Pele alva, e o português com sotaque francês mais lindo do universo... Bem, acho que amanhã terei que procurar minha bota.

Izis Vieira 

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