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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Seu lindo verão chegara ao fim.





E ela entrara naquele ônibus-forno como quem está indo direto para a execução. Bem, para ela não era tão diferente assim, com todos os exageros da frase.

Ela estava apenas cansada, não aguentava mais, afinal, estava passando mais tempo do que o planejado ali dentro, não é que ela não gostasse dali, ela realmente aprendera a ter um carinho bem especial com aquilo tudo que estudava e começara a conhecer a 4 anos.

Esse era o problema, 4 anos era demais para alguém como ela, que sempre foi tão livre de obrigações, de rotinas, de viagens curriculares diárias, se havia algo mais massante que aquilo ela simplesmente não queria conhecer. Eram 4 anos, 4 anos!

Meu deus, 4 anos vendo aqueles mesmos rostos, não é que ela não gostasse deles, apenas estava saturada, 4 anos daquilo era mais do que ela poderia aguentar.

Os mesmos gritinhos histéricos, os mesmos olhares reprovadores, os mesmos sorrisos falsos, os mesmos abraços e tapinhas nas costas, as mesmas fofocas, o mesmo falso moralismo, tudo igual, ano após ano. Tudo igual.

Até que uma leva vá embora brincar de cobra-comendo-cobra, e uma nova entre, tão sem visão, tão sem percepção do que lhes rodeia, massa alienada entrando na massa alienante, você já foi um deles, qual é o problema?

Aquele mesmo calor infernal, as mesmas gafes invisíveis que todo mundo vê, as mesmas desavenças, era tudo tão atipicamente normal que diante de toda essa estranheza ela nem mais se dava ao trabalho de sorrir, não, fingir sorrir, ela apenas sorria para os seus, e os seus também (graças a Mãe) estavam ali. Tão inocentes e perceptivos, ela não poderia ser amiga de ninguém diferente.

Então ela os via aos poucos; um aqui, outro ali e sua alma começava a sair aos pouquinhos, para dar um “oi”, um sorriso e depois se esconder, ela não tinha tempo a perder fazendo algum tipo de social, já perdera tempo demais.

E mais que isso, sabia exatamente com quem deveria ser (o mais próximo) ela mesma, afinal, ali deveria ser como sua casa, não? Não. Não mais. Ela sabia que não era mais a mesma coisa, apesar de ser o mesmo lugar, ela sentia falta de algumas vozes, alguns perfumes, algumas risadas, ela vira tanta coisa se construir ali, coisas perdidas, amizades construídas, vivências compartilhadas. Jamais serão esquecidas.

Então a nostalgia tomava conta, era inevitável, apesar de toda a empolgação dos que ficaram, de sua própria empolgação, ela só queria sair dali, ir embora, encontrar um lugar que possa chamar de casa, chega uma hora que é a única coisa que se quer, não?

Então todos entram de volta no ônibus, tão cansados, embora ainda se escute risos e gritinhos histéricos, e ainda se sinta vontade de andar com metralhadoras portáteis, mas não importa, o crepusculo presenteia seu inicio de noite perdido em uma viagem diária totalmente impessoal e indesejada, mas seu olhar está distante demais para fazer qualquer queixa, ouvir qualquer som.

E de seus pensamentos somente ela era dona, só ela sabia o que lhe supria, e o que lhe fazia falta, como só ela também sabia o custo de ali estar e o pouco que faltava, e o quanto esse pouco se tornava interminável a cada sol escaldante do meio dia e cada lua que se escondia em nuvens tão negras quanto seus olhos nas noites, nas noites em que todos repousam a sono solto, cheios de esperanças e medos que são apenas seus.

E a noite continua tão fria como deveria ser. 

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