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sábado, 15 de setembro de 2012

Redenção (fragmento)



Tomou um banho gelado, mas, a água que descia do chuveiro tão forte e descia suavemente por seu corpo revigorava cada célula de seu ser ao escorrer por ele, ao cair sobre seus cabelos, ao esconder suas lágrimas que caiam silenciosas pelo seu rosto e logo se misturavam a toda água que escorria pelo ralo.
De um jeito, ou de outro era apenas um líquido transparente que passava pelo seu corpo e ia embora. Ele se sentia exatamente assim, sobre sua vida, sobre as coisas boas que aconteciam em sua vida, para ele, que estava certo de que tinha uma existência efêmera nada era o bastante.
Quase nada.
Ele encostava as mãos na parede do box, enquanto inclinava a cabeça pra baixo para sentir a água descer por sua nuca, a verdade é que ele não queria pensar. Mas, nesse exato momento já estava pensando. Em algo que não gostaria de estar dedicando tempo. Em alguém que gentilmente o destino colocou em seu caminho para tirar seu sossego, mas, já que tudo passará tão rápido, de quê lhe serviria sua paz?
“Você deveria relaxar mais.” - Ele lembrava da voz do garoto, aquela voz estrondosa, um pouco mais grossa que a sua, que falava de relaxar, sem nem ao menos perceber o quanto soava tímida.
“Eu estou bem, mas é algo que você nunca vai entender.” - disse com um leve sorriso amargo nos lábios, somente ele sabia o quanto que doía lembrar das coisas que aconteciam diariamente, e do esforço de não tentar lembrar, poderia ser exagero, até, mas, cada um e somente cada um sabe de sua dor, sabe o quanto dói.
“Eu quero entender, eu realmente quero entender, eu quero… Eu nem sei porque, mas, eu sei que eu devo conhecer mais de você, me frustra você não ser você mesmo, nem comigo…” - Disse o menino levando os braços para trás de sua cabeça e olhando o céu, tentando disfarçar sua inconformação, ainda era tão difícil para ele demonstrar sentimentos, mas isso era algo que era totalmente compreensível, devido as circunstâncias.
“Meu am… Álvaro, entenda, não estou de forma alguma tentando te culpar ou demonstrando rancor, é só que, você só não entenderia, você sempre esteve do outro lado, não sabe o que é passar por tudo que passo… E ainda ter que fingir o tempo todo não me importar, nem ao menos te conhecer.” - Ele também tinha timidez e ponderação na voz, mas, isso era algo que ele trazia dentro de si por sempre, por todas as coisas que não tinha coragem nem vontade de falar.
“Você sabe, Ronan, você sabe, isso é complicado, mas, não me faz… Não me faz te amar menos.” - disse ele levando o braço ao queixo do rapaz.
“Eu sei, e isso me torna forte.”
Não trocaram uma única palavra, apenas se beijaram ali, naquele entardecer, qualquer dúvida ou insegurança era totalmente irrelevante naquele momento. Eram apenas dois lindos garotos que se amavam, e tinham medo e nem ao menos sabiam como lidar com tudo aquilo. Mas, nenhuma das incerteza fazia com que os dois se amassem menos.
- Precisamos de água ainda nessa casa, senhor Ronan. - disse sua mãe batendo na porta do banheiro.
- C-Certo, já estou acabando - disse ele gaguejando do susto que tomara, era apenas uma lembrança, ele não tinha, por nenhum segundo saído daquela casa.
Enrolou a toalha em sua cintura e saiu do banheiro, seu ouvido foi bombardeado pelas músicas de péssimo gosto do seu irmão mais novo. Era só mais uma noite insuportável, que ele teria que suportar para ver o amanhã nascer.
Param ver Álvaro novamente.

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